Cerca de trinta países estão participando do desenvolvimento de um projeto digital de troca de dados confidenciais sobre organizações jihadistas de todo o mundo, que pode alimentar ações judiciais, reportou o jornal francês Le Monde nesta quinta-feira (25/3).
Segundo reportagem publicada na edição de sexta-feira (20/3) do jornal, o projeto "Gallant Phoenix", liderado pelos Estados Unidos, já existe desde 2016 e está instalado em uma base militar americana na Jordânia.
Seu objetivo é "inventariar e centralizar todos os vestígios deixados pelos jihadistas, seja qual for seu perfil, em todo o mundo, para processá-los de qualquer maneira.
Essas "provas de guerra" vêm "de tudo o que poderia ter sido deixado como traços na web e redes sociais ou abandonado em terra por grupos jihadistas, ou que eles tinha em mãos ao serem presos", esclarece o jornal.
O Le Monde cita como principais contribuintes o exército iraquiano, as forças curdas, os países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a coligação internacional anti-jihadista no Levante.
"Todos os exércitos do mundo sempre tiveram o cuidado de coletar os impactos deixados por seus inimigos. Mas, em outras épocas, esses elementos permaneciam em grande parte sob o poder dos serviços de inteligência militar. Com o 'Gallant Phoenix', a metodologia de coleta dessas evidências foi estruturada e sistematizada", explica a matéria.
A França aderiu ao projeto em 2017, de acordo com o Le Monde, que afirma que cerca de 700 documentos ligados a 500 supostos jihadistas foram apresentados em processos de terrorismo.
Consultado pela AFP, o Ministério da Defesa francês não quis comentar, mas a Procuradoria Antiterrorista (PNAT) confirmou a participação da França.
No caso intitulado "Ulises", ligado a uma operação que conseguiu confundir os líderes do Estado Islâmico, dois franceses e um marroquino, acusados de planejar um massacre em Paris, foram condenados em fevereiro a duras penas de 22 a 30 anos de prisão.
"As oito provas de guerra produzidas na audiência vêm justamente desse programa de cooperação jurídica franco-americano", disse à AFP Benjamin Chambre, procurador que representou a PNAT no julgamento.
O Gallant Phoenix não aparece como tal nos documentos da acusação nesse caso. Porém, todas as informações obtidas pelos serviços de inteligência e polícia estrangeiros são mencionadas em vários pontos. E, durante o julgamento, o procurador-geral fez diversas menções a "provas de guerra".