Cox's Bazar, Bangladesh - Ao menos 15 mortes foram confirmadas, e 400 pessoas são consideradas desaparecidas após um grande incêndio em um campo de refugiados rohingyas no sudeste de Bangladesh, que obrigou a fuga de pelo menos 45 milpessoas, anunciou a ONU nesta terça-feira (23/3).
"O que vimos neste incêndio é algo que nunca vimos antes nesses campos. É enorme. É devastador", afirmou o representante do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados em Bangladesh, Johannes van der Klaauw, a repórteres em Genebra, por meio de um link de vídeo a partir de Dacca.
"Até o momento confirmamos 15 mortos, 560 feridos, 400 pessoas desaparecidas e pelo menos 10.000 abrigos destruídos. Isso significa que pelo menos 45.000 pessoas estão sendo deslocadas e para as quais agora buscamos abrigo provisório", relatou.
"Quase 10.000 barracas foram incendiadas", disse mais cedo à AFP o secretário de gestão de catástrofes e ajuda de Bangladesh, Mohsin Chowdhury.
"Criamos uma comissão de sete membros para investigar o incêndio", que aconteceu na segunda-feira, completou. Os bombeiros conseguiram controlar as chamas na área por volta da meia-noite (horário local). O incêndio foi o terceiro registrado em campos rohingyas em quatro dias, afirmou à AFP um oficial do corpo de bombeiros, que não soube determinar as causas dos incidentes. Na sexta-feira, dois incêndios destruíram dezenas de abrigos de rohingyas, segundo as autoridades.
Quase um milhão de membros desta minoria muçulmana de Mianmar vivem em condições precárias em campos do distrito de Cox's Bazar desde que fugiram da repressão militar em seu país em 2017.
As autoridades indicaram que o incêndio começou em um dos 34 acampamentos, que incluem mais de 3.000 hectares, e depois se propagou para outros três, o que obrigou os refugiados a fugirem com o que conseguiram salvar.
Milhares de pessoas foram deslocadas, segundo a organização Refugees International, depois que o fogo destruiu milhares de cabanas improvisadas de lona e bambu.
O inspetor de polícia Gazi Salahuddin também calculou que quase 50.000 pessoas fugiram para "buscar abrigo com suas famílias em outros campos". Ele disse que o incêndio ficou ainda mais grave com a explosão de botijões de gás que os refugiados usam para cozinhar. O fogo permaneceu fora de controle por mais de 10 horas, contou à AFP Mohammad Yasin, um rohingya. "Este é o maior incêndio desde o fluxo de rohingyas em agosto de 2017", disse à AFP o comissário adjunto para os refugiados, Shamsud Douza.
Ele afirmou que alimentos foram distribuídos entre os deslocados e voluntários tentam proporcionar todo apoio humanitário necessário. "As pessoas fugiam enquanto o fogo avançava rapidamente. Muitos ficaram feridos e vi pelo menos quatro corpos", disse Aminul Haq, outro refugiado.
"As crianças corriam e choravam", recorda Tayeba Begum, uma voluntária da ONG Save the Children.
"Uma coincidência muito grande"
O representante dos rohingyas, Sayed Ullah, pediu "uma investigação imediata" e disse que a natureza dos incêndios gera muita preocupação.
"Não sabemos por que estes incêndios se repetem nos campos. Precisamos de uma investigação adequada e completa", disse à AFP.
"Muitas crianças estão desaparecidas, e algumas não conseguiram fugir, devido ao arame farpado nos campos", lamentou.
"Não conseguimos fugir por causa da cerca. Minha filha menor ficou gravemente ferida", lamentou Myo Min Khan.
A polícia rebateu a acusação e alegou que apenas uma parte pequena do campo estava com cercas. A ONG Refugees International teme que os incêndios provoquem recordações traumáticas da perseguição sofrida pelos rohingyas em Mianmar em 2017.
"Esta tragédia é uma lembrança terrível da posição vulnerável dos refugiados rohingyas, retidos entre condições cada vez mais precárias em Bangladesh e a realidade de um país agora governado pelos militares responsáveis pelo genocídio que os obrigou a fugir", afirmou a organização.
Em janeiro deste ano, aconteceram dois grandes incêndios nos campos, que deixaram milhares de rohingyas sem casas e destruíram quatro escolas construídas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O diretor da Anistia Internacional para o Sul da Ásia, Saad Hammadi, disse que a "frequência dos incêndios nos campos é uma coincidência muito grande, sobretudo, porque não são conhecidos os resultados das investigações prévias sobre os incidentes, e estes se repetem".