Corrupção

Junta militar de Mianmar apresenta novas acusações contra Aung San Suu Kyi

Agente imobiliário teria confessado subornos a Aung Sans Suu Kyi

Yangon, Mianmar - A junta militar que governa Mianmar apresentou novas acusações de corrupção contra Aung San Suu Kyi, que poderia ser excluída da vida política se for considerada culpada. A repressão violenta às manifestações pró-democracia continua.

O balanço de vítimas aumenta a cada dia. Ao menos sete pessoas morreram na quarta-feira (17/3) em ações das forças de segurança, informou a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP). No total, 217 manifestantes morreram desde 1º de fevereiro, dia do golpe militar que instalou a junta no poder.

Ao mesmo tempo cresce a pressão contra Aung Sans Suu Kyi, chefe de fato do governo civil deposto. O canal estatal MRTV exibiu na quarta-feira à noite um vídeo de um agente imobiliário que confessa que pagou  US$ 500 mil em subornos a Suu Kyi, segundo ele de maneira parcelada entre 2018 e 2020.

"De acordo com o testemunho, as autoridades detectaram que Aung San Suu Kyi é culpada e se preparam para indiciá-la", afirmou a MRTV.

Acusações absurdas

As novas alegações "não têm fundamento e são absurdas", afirmou à AFP o advogado da chefe de fato do governo civil derrubado, que permanece detida pelo exército em um local secreto. "Minha cliente talvez tenha defeitos, mas corromper as pessoas não está em sua natureza. Os birmaneses não vão acreditará nas novas acusações", disse.

Detida durante o golpe de Estado de 1º de fevereiro, Suu Kyi, 75 anos, já recebeu quatro acusações: importação ilegal de walkie-talkies, não cumprimento das restrições relacionadas à pandemia de coronavírus, violação de uma lei sobre telecomunicações e incitação de desordem pública.

Na semana passada, o exército anunciou a abertura de uma investigação por corrupção ao acusar a ex-governante de ter recebido ilegalmente 600.000 dólares e mais de 11 quilos de ouro.

Se a vencedora do Nobel da Paz em 1991 for considerada culpada das acusações atribuídas, ela pode receber penas longas de prisão e poderia perder o direito de exercer cargos públicos.

Seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND), venceu com folga as eleições legislativas de novembro. Os observadores internacionais não registraram problemas durante a votação, mas os generais golpistas alegaram "grandes fraudes" para justificar o golpe de Estado do mês passado. Os militares parecem mais decididos que nunca a calar os protestos que exigem democracia, reprimidos com grande violência.

"Crimes contra a humanidade"

Thomas Andrews, principal analista independente que trabalha com o apoio da ONU, denunciou no Conselho de Direitos Humanos de Genebra desaparecimentos forçados, mortes e torturas que constituem prováveis "crimes contra a humanidade" em Mianmar. O exército birmanês não respondeu nenhum dos muitos pedidos de comentários da AFP.

A AAPP afirmou que as "táticas de repressão estão cada vez mais violentas". O exército usa "balas reais, inclusive sem motivo contra pessoas que não protestam", o que inclui "crianças e mulheres".

Nesta quinta-feira, vários bairros de Yangon, capital econômica do país, estavam em um clima de tensão. As forças de segurança "ameaçam atirar contra os habitantes que não retiram as barricadas", erguidas para conter o avanço de militares e policiais, afirmou à AFP um médico que vive na área.

Quase 2.200 pessoas foram detidas nas últimas seis semanas, muitas delas de forma secreta ou sem acesso a um advogado. Centenas de pessoas estão desaparecidas, alertou a ONU, que denuncia um "banho de sangue". A junta ignorou os pedidos internacionais e as sanções aplicadas por várias potências ocidentais, lideradas por Estados Unidos e União Europeia.

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