O governo mexicano vem detendo crianças imigrantes na fronteira com os EUA, antes de entregá-las às autoridades americanas. A prática vem desde o governo de Donald Trump e não mudou com o presidente Joe Biden, apesar de o democrata ter prometido tratar os menores com mais "humanidade".
Apesar das promessas, as autoridades mexicanas continuam a agir como um braço do governo americano, barrando muitos imigrantes da América Central que tentam entrar nos EUA. Nicole, de 15 anos, e Joshua, de 13, cresceram com a foto da sua mãe na sala de estar e a promessa de que um dia eles a veriam de novo. A mãe deixou El Salvador e foi para Maryland quando eles ainda eram pequenos. Doze anos depois, a mãe havia economizado dinheiro para pagar os contrabandistas - mais de US$ 10 mil -, para que seus filhos entrassem nos EUA.
Em 14 de dezembro, a alguns metros ao sul da fronteira, na ponte internacional onde o contrabandista deixou as crianças, a polícia mexicana parou os dois irmãos. "Eu implorei a eles, pedi por favor para nos deixarem passar", disse Nicole em lágrimas. "Mas eles nos trouxeram aqui."
Até então, Nicole e Joshua, que deram somente seu primeiro nome, consideravam sua jornada um êxodo, e não parte de um fluxo de pessoas ou uma crise. Agora, eles estão entre as mais de 700 crianças levadas para o Centro de Atenção para Menores na Fronteira, em Reynosa, ao sul de McAllen, no Texas, desde dezembro. Quase todas as crianças foram detidas por soldados mexicanos ou pela polícia antes de conseguirem se apresentar aos agentes da imigração americana.
Algumas crianças estão neste minúsculo complexo no centro de uma cidade fronteiriça há mais de um ano. Outras chegaram há poucos dias. Várias têm cicatrizes de espancamentos ou tortura nas mãos feitas por gangues e cartéis. Elas dormem juntas num local com janelas com grades, a porta guardada por um segurança desarmado que sai à caça das que tentam fugir.
Quando chegaram a esse centro, Nicole e Joshua encontraram outras crianças fugindo de uma série de crises que atingem a América Central: violência de gangues, pessoas desalojadas após dois grandes furacões, além da pobreza, que piorou por causa da pandemia. E a cada dia chegam mais menores à fronteira americana
Nesta segunda-feira, 15, deputados republicanos responsabilizaram Biden pela onda de crianças que chegam à fronteira. Vários congressistas descrevem a saturação dos centros de atendimento como "a primeira crise migratória" do governo democrata. O líder da minoria republicana na Câmara, Kevin McCarthy, denunciou a "crise" em visita com vários deputados ao Texas. "Esta crise foi criada pelas políticas deste novo governo", acusou. O deputado republicano Chuck Fleishmann afirmou que Biden "criou um ambiente" propício para o aumento da imigração.
Rubia Tabora, guatemalteca de 25 anos, cruzou a fronteira no Texas com seu filho de 1 ano para se juntar ao marido que mora na Virgínia. "No meu país, não há trabalho, não há dinheiro", disse. Para ela, o fato de Biden estar no governo fez a diferença. "Meu marido me disse para vir agora."
No sábado, 13,o governo Biden pediu ajuda à agência federal de emergências (Fema) para lidar com as crianças que estão cruzando a fronteira, em razão da sobrecarga dos centros de atendimento. O Departamento de Saúde cuida atualmente de 8,8 mil crianças migrantes e o Escritório de Alfândega e Proteção Fronteiriça de outras centenas. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.