O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciará nesta terça-feira que a Grã-Bretanha aumentará o número de ogivas nucleares que está autorizada a armazenar em "mais de 40%", relataram dois meios de comunicação britânicos nesta segunda-feira (15/3).
Downing Street anunciou em um comunicado que Johnson divulgará nesta terça no Parlamento as conclusões de um relatório sobre a defesa, segurança e política externa do país que determinará a linha do governo para a próxima década.
Segundo os jornais The Guardian e The Sun, que consultaram o documento de cerca de 100 páginas, o governo pretende aumentar para 260 o número máximo de ogivas que o país está autorizado a armazenar, após ter prometido reduzir o seu arsenal para 180 ogivas em meados da última década.
Segundo a imprensa britânica, Downing Street invoca uma "panóplia crescente de ameaças tecnológicas e doutrinárias" para justificar essa mudança, sem precedentes desde a Guerra Fria.
O relatório alerta para a "possibilidade realista" de que um grupo terrorista "consiga lançar um ataque CBRN [químico, biológico, radiológico ou nuclear) até 2030", mas também contra a "ameaça ativa" e o "desafio sistêmico" que representam, respectivamente, Rússia e China.
“Uma dissuasão nuclear mínima, crível e independente, atribuída à defesa da Otan, é essencial para garantir a nossa segurança”, justifica o relatório.
Essa mudança coincide com a decisão de Londres de se posicionar após o Brexit como uma potência incontornável no cenário internacional, segundo o conceito de "Grã-Bretanha Global".
Esta mudança "viola os compromissos que (Londres) adotou no âmbito do tratado de não proliferação nuclear", denunciou a ICAN (Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares) nesta segunda-feira em um comunicado.
“A decisão do Reino Unido de aumentar seu arsenal de armas de destruição em massa em meio à pandemia é irresponsável, perigosa e viola o direito internacional”, lembrou Beatrice Fihn, diretora desta ONG.
O grupo da Campanha pelo Desarmamento Nuclear (CND) vê esta iniciativa como um "primeiro passo para uma nova corrida armamentista nuclear", chamando-a de uma "grande provocação no cenário mundial".
"Enquanto o mundo luta com a pandemia e o caos climático, é incrível que nosso governo opte por aumentar o arsenal nuclear britânico", sublinhou a secretária-geral do grupo, Kate Hudson, para quem "alimentar tensões globais e desperdiçar os recursos é uma abordagem irresponsável e potencialmente desastrosa".