A gigante farmacêutica AstraZeneca anunciou neste sábado (13/3) um novo atraso nos envios de suas vacinas anticovid-19 para a União Europeia, um novo golpe aos esforços para acelerar a vacinação, enquanto persistam os temores sanitários sobre este produto defendido pela OMS.
A companhia anglosueca alegou problemas de produção e restrições de exportação para justificar os atrasos.
Vários países suspenderam nesta semana a aplicação do produto da AstraZeneca por medo da formação de coágulos de sangue, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter garantido na sexta-feira que não há motivo para deixar de usar esta vacina contra a covid-19, doença que já causou mais de 2,6 milhões de mortes no planeta.
Dinamarca, Noruega, Islândia e Bulgária suspenderam por "precaução" as aplicações da AstraZenaca, e neste sábado a Índia anunciou que realizará uma revisão mais profunda dos efeitos colaterais deste imunizante.
A Noruega anunciou que detectou hemorragias cutâneas em alguns pacientes com menos de 50 anos, embora sem estabelecer uma causa direta com o medicamento.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) defendeu na sexta-feira a adição de alergias graves à lista de possíveis efeitos colaterais da vacina.
A República Democrática do Congo também anunciou neste sábado que vai adiar a campanha de vacinação contra a covid-19 que começaria em 15 de março com doses da AstraZeneca, "como medida de precaução". A Tailândia fez o mesmo.
Reduzir entregas
Sobre os atrasos de suas entregas, a AstraZeneca explicou neste sábado que decidiu recorrer aos seus centros de produção fora da UE para abastecer o bloco, mas "infelizmente, as restrições de exportação reduzirão as entregas no primeiro trimestre" e "provavelmente" no segundo, disse um porta-voz do grupo.
A AstraZeneca começou a distribuir suas vacinas para a UE em fevereiro e seu objetivo era entregar 100 milhões de doses no primeiro semestre de 2021 (30 milhões no primeiro trimestre, 70 milhões no segundo).
A Comissão Europeia quer que antes do fim do verão boreal 70% dos europeus estejam vacinados.
A Itália, que esta semana superou a barreira das 100 mil mortes por covid-19, registra uma forte alta nos números de contaminações e óbitos.
Na França, a situação na região mais povoada do país, a Ile de France, onde se encontra Paris, preocupa as autoridades devido à saturação dos hospitais. Neste sábado começaram as primeiras evacuações de doentes de covid-19 para outras regiões menos afetadas.
"Estamos no limite", afirmou o primeiro-ministro francês, Jean Castex. Na sexta, a França superou a marca de 90 mil mortes pela pandemia.
Em paralelo, cinco países europeias -Áustria, República Tcheca, Eslovênia, Bulgária e Letônia- pediram que os 27 países membros da União Europeia (UE) debatessem "o quanto antes" sobre as "enormes disparidades" na distribuição de vacinas no bloco.
O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, conversou na véspera com alguns países membros da UE -que não mencionou- sobre negociar nos bastidores contratos com laboratórios.
A UE está atrás dos Estados Unidos, Israel e Reino Unido no número de vacinados.
Nos Estados Unidos, o país mais afetado pela pandemia com 534.275 mortes, quase 20% da população já recebeu pelo menos uma dose da vacina e mais de 100 milhões já foram administradas - 30% do total mundial.
Esta nova situação transparece nos aeroportos: na sexta-feira, mais de 1,35 milhão de passageiros passaram pelos terminais aéreos americanos, o maior número desde 15 de março de 2020, quando o total de viajantes foi de 1,5 milhão.
Lula vacinado
As autoridades de saúde do Brasil autorizaram na sexta-feira o uso definitivo da vacina da AstraZeneca, alegando que seus "benefícios superam os riscos".
O produto da AstraZeneca já havia sido aprovado no país para uso emergencial, destinado aos grupos prioritários.
Sua aprovação definitiva permitirá agora usá-lo de forma generalizada, em um momento em que o Brasil, onde o coronavírus deixa mais de 275.000 mortes, enfrenta uma virulenta segunda onda da pandemia.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 75 anos, recebeu neste sábado a primeira dose da vacina chinesa Coronavac.
Honduras recebeu 48 mil doses do medicamento AstraZeneca neste sábado.
No Paraguai, a polícia e os militares começaram a aplicar controles noturnos para prevenir infecções, cuja propagação se intensificou nos últimos 10 dias.
Tragédia na Jordânia
Sete pacientes com covid-19 em um hospital perto de Amã morreram neste sábado por falhas no fornecimento de oxigênio, causando uma grande comoção no país e enfurecendo o rei em pleno repique da epidemia do coronavírus na Jordânia.
Abdullah II, vestido com uniforme militar, foi ao hospital de Salt, a 30 km da capital. Pelas imagens veiculadas pela televisão, ele pediu a demissão do diretor após manifestar seu descontentamento.
"Como algo assim pode acontecer aqui? Como é que não há oxigênio neste hospital? Isso é inaceitável", gritou o governante, visivelmente irritado, ao diretor Abdel Razak al Khachman.