Itália de volta ao confinamento

Primeiro país europeu a sofrer os efeitos virulentos da covid-19 vai se trancar novamente, um ano depois, para tentar frear o avanço do Sars-CoV-2. Medidas de restrições vão atingir grande parte do território por 22 dias, a partir de segunda-feira

O governo do primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, anunciou, ontem, um novo confinamento de grande parte do país, que superou recentemente a barreira das 100 mil mortes provocadas pela covid-19. É uma tentativa de conter a disseminação do novo coronavírus, que vem lotando hospitais de várias regiões, sob risco de colapso. Em fevereiro do ano passado, os italianos foram os primeiros europeus a entrar em quarentena.
Durante reunião do conselho de ministros, ficou decidido que, de segunda-feira a 6 de abril, as áreas com número semanal de contágios superior a 250 por 100 mil habitantes passarão a ser consideradas zonas vermelhas. De acordo com a classificação por cores, essa é a mais contagiosa.
Por determinação técnica, nessa categoria, as autoridades deverão impor restrições, como fechamento de estabelecimentos de ensino — incluindo do ensino médio e universidades —, assim como bares, cafeterias e restaurantes (exceto para a retirada das refeições). Pelas estatísticas mais recentes, a maior parte das 20 regiões italianas serão afetadas.
Além disso, as viagens estão autorizadas apenas em caso de necessidade por questões de trabalho, compra de artigos de primeira necessidade e por emergências médicas. As internações e cirurgias não relacionadas com o coronavírus foram adiadas.
“Mais de um ano após o início da emergência sanitária, infelizmente, estamos enfrentando uma nova onda de infecções”, disse o premiê ao visitar o centro de vacinação do Aeroporto Internacional de Fiumicino. “A memória do que aconteceu na primavera passada é vívida e faremos de tudo para evitar que aconteça novamente”, acrescentou.

Variantes

A Itália vive um forte aumento de contágios e mortes, em grande parte devido à variante britânica, afirmam os médicos. Na quinta-feira, as autoridades anunciaram 26 mil novos casos da doença e 373 mortes em 24 horas.
O país iniciou a campanha de vacinação no fim de dezembro de 2020, mas a distribuição continua lenta. Até ontem, em torno de 1,8 milhão de pessoas — de uma população de 60 milhões — havia recebido duas doses de imunizante.
Segundo o centro de pesquisas de saúde Gimbe, o número de novos casos observados nas últimas três semanas confirma “o início da terceira onda” de coronavírus na Itália. Nino Cartabellotta, presidente da instituição, disse que em mais da metade das 20 regiões italianas “os hospitais e, especialmente, as Unidades de Terapia Intensiva já estão saturados”.
As grandes regiões ao norte (Lombardia, Piemonte, Vêneto, Emilia-Romagna), assim como Lazio (a região de Roma) e Calábria, ao sul, correm o risco de serem declaradas zonas vermelhas. Se isso acontecer, vão se unir a regiões do sul, como Campânia, Basilicata e Molise, que já estão na categoria mais contagiosa e serão, certamente, alvo das restrições.
De acordo com os dados do último monitoramento, Toscana, Ligúria, Umbria e Abruzzo permaneceriam como zonas intermediárias, de cor laranja.
Apenas a Sicília deve continuar no setor amarelo, enquanto a ilha da Sardenha é a única zona branca da península, ou seja, sem contágios.
Entre os dias 3 e 5 de abril, período da Semana Santa, toda a Itália será considerada zona vermelha, e os deslocamentos serão autorizados apenas dentro da própria região para outra residência privada, uma vez por dia. A circulação será permitida para o máximo de duas pessoas juntas.
Vacinas

O novo confinamento italiano ocorre num momento em que a União Europeia procura acelerar a imunização no continente. O bloco acaba de aprovar a quarta vacina, a da Johnson & Johnson, que pode acelerar a campanha, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Um dos fármacos autorizados, contudo, está sob suspeição em alguns países. A vacina da Oxford/AstraZeneca enfrenta temores relacionados com a formação de coágulos, embora o laboratório anglo-sueco tenha assegurado, ontem, que não há nenhuma evidência de risco agravado. “Na verdade, os números para esse tipo (de problema médico) são muito menores nos vacinados em comparação ao que seria esperado para a população como um todo”, garantiu o grupo em nota.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também frisou que o uso do produto não deve ser interrompido. “Sim, deveríamos continuar utilizando a vacina da AstraZeneca, não há razão para não utilizá-la”, declarou Margaret Harris, porta-voz da agência das Nações Unidas. Depois que Dinamarca, Islândia e Noruega suspenderam a aplicação do imunizante, a Bulgária anunciou a medida ontem.
Em nota, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) sugeriu, ontem, o acréscimo de alergias graves à lista de possíveis efeitos colaterais da vacina da AstraZeneca, após a detecção de reações do tipo no Reino Unido. A agência reguladora da União Europeia (UE) com sede em Amsterdã indicou, no entanto, que o imunizante pode continuar sendo utilizado.
A polêmica envolvendo a AstraZeneca surgiu no início da semana, depois que a a Áustria parou de administrar as doses de um lote. A decisão foi tomada depois que uma enfermeira de 49 anos morreu vítima de “graves transtornos de coagulação”, alguns dias após ser vacinada. Estônia, Lituânia, Letônia, Luxemburgo e Itália também deixaram de utilizar o lote.