Segundo na linha sucessória ao trono britânico, o príncipe William foi o primeiro integrante da realeza a comentar, de viva voz, a entrevista concedida por seu irmão, Harry, e a mulher dele, Meghan, ao canal americano CBS. O neto da rainha Elizabeth II saiu em defesa dos familiares em relação a um dos principais temas abordados na conversa dos duques de Sussex com a apresentadora Oprah Winfrey: o de que houve especulações sobre o tom de pele do filho do casal, durante a gravidez de Meghan.
“Nós não somos nem um pouco uma família racista”, afirmou William, ao visitar uma escola de um bairro multirracial da zona leste de Londres. O príncipe contou ainda não ter conversado com o irmão após a exibição do programa — apresentado domingo nos EUA e no dia seguinte no Reino Unido. “Eu ainda não falei com ele, mas pretendo”, disse o primogênito do príncipe Charles e da princesa Diana.
As declarações ocorrem dois dias após a divulgação de um curto comunicado do Palácio de Buckingham, que classificou as denúncias dos Sussex “preocupante”, especialmente as que tratavam da questão racial. Na entrevista, Harry e Meghan explicaram seu distanciamento da família real britânica e a mudança para a Califórnia, relatando episódios de hostilidades e falta de apoio da Casa de Windsor. Meghan revelou ter até pensado em suicídio, tamanha a pressão que sentia.
Mas o que deixou a entrevistadora sem palavras foi o momento em que o casal afirmou que um membro não identificado da família real — que não foram a rainha nem seu marido, o príncipe Philip — teve conversas com Harry sobre a cor da pele que teriam os seus filhos com ex-atriz afro-americana.
As revelações provocaram um debate intenso sobre o passado colonial e o racismo no Reino Unido, iniciado há um ano com os protestos do movimento Black Lives Matter, o que levou o país a analisar sua história colonial e relação com o comércio de escravos.
Na nota de terça-feira, a rainha, 94 anos, afirmou que “a família inteira está triste por saber como os últimos anos foram difíceis para Harry e Meghan”. A monarca acrescentou que leva “muito a sério” as acusações de racismo e se comprometeu a abordar o assunto “em família, de modo privado”. Assinalou, entretanto, que as “recordações podem variar” de acordo com as pessoas.
Para o jornal conservador britânico The Daily Telegraph, apesar do apoio externado, a cuidadosa escolha de palavras “sugere que a família não concorda com tudo o que falaram os duques de Sussex”. De acordo com o especialista constitucional Robert Hazell, do University College London, o tema só “vai virar uma crise para a instituição caso as pesquisas comecem a mostrar uma queda significativa no apoio à monarquia”.
Uma pesquisa realizada pelo YouGov mostrou que o tema divide a opinião dos súditos de Elizabeth II, com os mais jovens dando maior apoio a Harry e Meghan. Segundo a sondagem, 36% dos entrevistados disseram apoiar a monarca e a família real, enquanto 22% se posicionaram a favor da ex-atriz americana e do príncipe, sexto na ordem de sucessão ao trono britânico.