TENSÃO EM BUCKINGHAM

Entrevista dos Sussexes agrava crise na realeza

A entrevista concedida pelos duques de Sussex à apresentadora Oprah Winfrey nem foi ao ar, mas especialistas na família real britânica não têm dúvidas: está em curso a maior crise no Palácio de Buckingham em quase três décadas. Trechos já divulgados do programa, com declarações críticas de Meghan Markle à coroa, além da investigação sobre um suposto assédio moral exercido pela duquesa, dão o tom do que está por vir.
O impasse entre os Sussex, que renunciaram à monarquia há um ano, e o resto da família real se agrava com acusações de “inverdades” contra a coroa britânica feitas pela esposa do príncipe Harry à Ophra. Trata-se de uma situação nunca vista desde a época de Lady Di, que também concedeu uma entrevista impactante em 1995.
Um trecho do programa, que será exibido no domingo nos Estados Unidos, foi revelado anteontem pela rede americana CBS. Perguntada sobre como suas declarações poderiam impactar o palácio real, a duquesa responde: “Não sei como eles poderiam esperar que, depois de tanto tempo, ainda ficaríamos em silêncio enquanto The Firm (A Firma, como se refere à coroa) desempenha um papel ativo para perpetuar inverdades sobre nós.” O Palácio de Buckingham se recusou a comentar o assunto.

Assédio

A divulgação dessa parte da entrevista — que será transmitida segunda-feira na Grã-Bretanha —ocorreu horas depois de a realeza anunciar que examinaria as acusações de assédio moral contra Meghan. reveladas pelo jornal The Times. Foi noticiado que, em outubro de 2018, Jason Knauf, então secretário de comunicações dos Sussex, apresentou uma queixa de assédio no local de trabalho contra Meghan.
“Estamos claramente muito preocupados com as acusações (publicadas no jornal), após a denúncia de um ex-funcionário do duque e da duquesa de Sussex”, expressou o Palácio de Buckingham em um comunicado nada comum para a monarquia britânica, que não costuma expor suas diferenças em público.
A nota enfatizou que a coroa “não tolera e não tolerará o assédio no local de trabalho”.
Um porta-voz de Meghan disse que a duquesa está “triste por esse último ataque a sua pessoa, especialmente por ter sido, ela mesma, alvo de assédio”. Advogados do casal disseram ao The Times que o jornal estava “sendo usado pelo Palácio de Buckingham para vender uma história completamente falsa” antes da exibição da aguardada entrevista com Oprah Winfrey
Toda a situação remete à entrevista concedida por Diana, mãe de Harry, em 1995, na qual ela afirmou que no seu casamento havia “três pessoas”, referindo-se ao relacionamento entre o príncipe Charles, seu marido, com Camila Parker Bowles. Após a morte de Diana, eles se casaram.
Passados 26 anos, a entrevista continua reverberando. Onmte, a Scotland Yard considerou que “não era oportuno abrir uma investigação judicial” contra o jornalista da BBC Martin Bashir, que teria conversado com Lady Di falsificando alguns documentos.
Sexto na linha de sucessão ao trono britânico, Harry falou sobre a perseguição à mãe na entrevista a Oprah. O príncipe, que culpa parcialmente a imprensa pela morte de Diana, em 1997, quando era implacavelmente seguida por paparazzi, disse temer que a história se repetisse.
Esse foi, segundo ele, o motivo da ruptura com a monarquia, que incluiu a mudança para os Estados Unidos. O casal, que tem um filho, Archie, e espera o segundo, fixou residência em Los Angeles. Na época do rompimento, os duques não externaram o desconforto com a família real.
Para Penny Junor, especialista na monarquia britânica, Harry é contraditório ao justificar a decisão de deixar a realeza pela pressão da mída. “(O casal) passou o último ano buscando publicidade de uma forma ou outra. Do meu ponto de vista, isso torna tudo bastante hipócrita”, opinou.

» Cirurgia bem-sucedida

A crise em Buckingham ocorre em um momento particularmente difícil para a rainha Elizabeth II, cujo esposo, o príncipe Philip, de 99 anos, está hospitalizado há duas semanas por uma infecção. Ontem, o palácio anunciou que Philip foi submetido — “com sucesso” — a uma cirurgia para tratar uma doença cardíaca pré-existente e que permanecerá internado por vários dias.