O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, informou nesta segunda-feira (1º/3) que uma conferência de doadores para o Iêmen, devastado pela guerra, arrecadou apenas US$ 1,7 bilhão, um resultado decepcionante, já que é a metade do que é necessário para evitar a fome naquele país.
"Milhões de crianças, mulheres e homens iemenitas precisam desesperadamente de ajuda para viver. Cortar a ajuda equivale a uma sentença de morte", advertiu Antonio Guterres em um comunicado.
A ONU pediu aos doadores internacionais que arrecadassem US$ 3,85 bilhões para financiar os programas humanitários mais urgentes para o Iêmen. No entanto, a ajuda ficou muito aquém do esperado.
Guterres ressaltou que o valor arrecadado nesta segunda-feira é inferior ao recebido pela ONU em 2020, quando as doações já haviam sido afetadas pela recessão devido à pandemia do coronavírus.
“O melhor que podemos dizer sobre hoje é que representa um avanço. Agradeço àqueles que generosamente se comprometeram e peço a outros que reconsiderem o que podem fazer para ajudar a prevenir a pior fome que o mundo já viu em décadas”, disse o scretário-geral.
Guterres explicou que a única maneira de aliviar o sofrimento atual do povo iemenita é garantir um cessar-fogo em todo o país e uma solução política que ponha fim a seis anos de conflito, que mergulhou esta nação "na crise humanitária mais grave no mundo".
“Não há outra solução”, reiterou. "As Nações Unidas continuarão a solidarizar-se com o povo faminto do Iêmen", acrescentou.
Mais de 100 governos e doadores participaram da reunião virtual - organizada em conjunto pela Suécia e Suíça - no momento em que a violência local aumentou recentemente em Marib, no norte daquele país na Península Arábica.
Mais de 100 governos e doadores individuais estão participando de uma reunião virtual - patrocinada conjuntamente pela Suécia e Suíça - enquanto a violência local aumentou recentemente em Marib, no norte deste país pobre da Península Arábica.
Os rebeldes houthis retomaram a ofensiva no início de fevereiro para tomar este último reduto do governo no norte, enquanto intensificaram os ataques da vizinha Arábia Saudita.
O conflito, que já dura mais de seis anos, matou dezenas de milhares de pessoas e deixou milhões à beira da fome.
"Situação urgente"
A ONU contava, em particular, com os países ricos do Golfo que cercam o Iêmen para levantar os US$ 3,85 bilhões (cerca de € 3,18 bilhões) necessários. No ano passado, faltaram US$ 1,5 bilhão dos US$ 3,4 bilhões esperados.
Algumas das promessas dessa segunda-feira, entre elas US$ 191 milhões dos Estados Unidos e os US$ 430 milhões da Arábia Saudita, são menores que as doações de 2020.
Alemanha e Noruega aumentaram suas contribuições, prometendo respectivamente US$ 200 milhões para 2021. Os Emirados Árabes Unidos prometeram US$ 230 milhões na sexta-feira.
De acordo com os últimos dados da ONU, mais de 16 milhões de iemenitas, cerca de metade da população de 29 milhões, passarão fome este ano.
Cerca de 50.000 pessoas já estão "morrendo de fome ou em condições de quase fome" e 400.000 crianças menores de cinco anos podem morrer de desnutrição aguda "sem tratamento de emergência".
Doze organizações humanitárias, incluindo Save the Children, Oxfam e Action Against Hunger, alertaram sobre um "desastre" no caso de falta de financiamento.
"Com cinco milhões de pessoas à beira da fome e mais de dois terços da população do país necessitando de ajuda humanitária ou proteção, a situação não poderia ser mais urgente", afirmaram em um comunicado conjunto.
O Programa Mundial de Alimentos, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2020, anunciou no domingo que "enfrenta uma lacuna de financiamento significativa".
A conferência ocorre em um momento em que os Estados Unidos tentam reativar o diálogo político para resolver o conflito no Iêmen.
Washington retirou os rebeldes houthis da lista de "organizações terroristas" e parou de apoiar a intervenção militar da coalizão liderada pelos sauditas no país desde 2015.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pressionou os rebeldes houthis para encerrar a ofensiva em Marib e afirmou que "apenas a ajuda humanitária não acabará com o conflito".