A Rússia registrou uma temperatura média recorde em 2020, o que provocou um retrocesso histórico da calota polar e do bloco de gelo (gelo flutuante) durante o verão boreal (inverno no Brasil) - anunciou o instituto meteorológico Rosguidromet, em um relatório divulgado nesta quinta-feira (25/3).
Em 2020, a temperatura média anual foi 3,22ºC superior à média do período de referência (1961-1990), e 1ºC acima do recorde precedente de 2007, constatou o centro, referindo-se a um ano "extremamente quente, tanto no nosso país, quanto em todo planeta".
O documento diz ainda que "o índice de aquecimento na Rússia é, em média, muito mais elevado do que a média do mundo", estimando que, desde 1976, a temperatura média no país aumentou 0,51°C por década.
Rosguidromet também advertiu sobre uma "tendência estável para uma redução do gelo que recobre o Ártico", motivo pelo qual a rota marítima do norte "estava quase totalmente livre de gelo" no final do verão passado, até se situar em seu nível histórico "mais baixo".
Em comparação aos anos 1980, a superfície do gelo é "cinco a sete vezes menor", afirma a agência e "em 2020, o manto de gelo em setembro atingiu uma baixa recorde, com uma área de superfície de 26.000 km².
De acordo com o Serviço Europeu de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), 2020 foi, ao lado de 2016, o ano mais quente a nível mundial.
O relatório indica que "a camada de permafrost (pergelissolo) derretida a cada temporada está aumentando."
Na terça-feira, a agência meteorológica previu temperaturas de primavera acima da média na maior parte do país e um clima seco na Sibéria, aumentando o temor de incêndios florestais, associando este fenômeno às mudanças climáticas.
Ambições no Ártico
A Rússia registrou temperaturas recordes nos últimos anos. A mais excepcional ocorreu em junho de 2020, quando em Verjoianskse, além do Círculo Polar Ártico, houve temperaturas de 38ºC, o maior nível registrado desde o início das medições, no final do século XIX.
Para muitos cientistas, a Sibéria é, junto com o Ártico, uma das regiões do planeta mais expostas às mudanças climáticas.
Isso leva quase inevitavelmente a um aumento nos desastres naturais: incêndios, a propagação de espécies invasoras e até mesmo inundações.
O derretimento do permafrost pode representar grandes riscos: este solo permanentemente congelado contém grandes volumes de CO2 e metano, gases de efeito estufa por excelência que poderiam ser liberados se houvesse um degelo em grande escala e, portanto, agravar o aquecimento global.
Por enquanto, esse degelo provoca principalmente deslizamentos de terra e subsidência do solo (deslocamento para baixo), o que ameaça as infraestruturas urbanas e econômicas.
Na rota marítima do norte, porém, o aquecimento global dá asas às grandes ambições da Rússia no Ártico, onde aspira se tornar a principal potência econômico-militar.
O derretimento do gelo torna esta rota mais navegável, dando origem a novas perspectivas comerciais no Extremo Norte, ligando a Ásia e a Europa.
Além da pesca, as empresas russas exploram grandes depósitos de petróleo e gás, carvão e minerais preciosos naquela região.
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