A navegação no Canal de Suez foi suspensa temporariamente, nesta quinta-feira (25), até que as autoridades consigam retirar um cargueiro gigantesco que bloqueia o tráfego desde quarta (24) nesta rota comercial crucial entre Europa e Ásia - uma tarefa que se mostra bastante complicada.
A Autoridade do Canal de Suez (SCA) anunciou a medida até conseguir desencalhar o "Ever Given", navio de 400 metros de comprimento que bloqueia a via.
A empresa Evergreen Marine Corp, com sede em Taiwan e que explora o navio, designou equipes de especialistas da empresa holandesa Smit Salvage e da japonesa Nippon Salvage, com o objetivo de aplicar um "plano mais eficaz" para salvar o navio.
Uma equipe da Smit Salvage, filial do grupo de dragagem e reformas portuárias Royal Boskalis Westminster, chegará nas próximas horas ao local para ajudar na operação, que pode demorar "dias ou semanas".
"É realmente uma baleia muito pesada na praia, uma maneira de falar", disse Peter Berdowski, diretor executivo da Royal Boskalis.
De acordo com um mapa evolutivo do site Vesselfinder, dezenas de navios aguardam nos dois extremos do canal e na zona de espera situada no meio do canal.
A SCA, que deslocou vários rebocadores para o Canal para tentar desencalhar o navio, afirmou que "13 navios do comboio norte (procedentes do Mar Mediterrâneo) (...) estão atracados em áreas de trânsito".
O incidente, que aconteceu na madrugada de terça-feira para quarta-feira, provoca atrasos consideráveis nas entregas de petróleo e de outros produtos comerciais. O bloqueio provocou o aumento dos preços do petróleo.
"As consequências sobre os preços dependerão da duração do bloqueio", afirmou Bjornar Tonhaugen, da consultoria Rystad.
"Nunca vimos nada como isto antes, mas é provável que o congestionamento tome vários dias ou semanas, para ser reabsorvido, pois deve ter um efeito cascata sobre os outros comboios, horários e mercados mundiais", afirma Ranjith Raja, diretora de pesquisas sobre o petróleo do Oriente Médio e o Mar na empresa Refinitiv, que compila dados financeiros e outras informações.
"Dificuldades extremas"
O "Ever Given", um navio de mais de 220.000 toneladas que seguia para Roterdã procedente da Ásia, encalhou na madrugada de terça-feira para quarta-feira e ficou atravessado, bloqueado na ala sul do Canal de Suez.
Os especialistas citam os ventos fortes como uma das causas do incidente com o cargueiro de 60 metros de altura. A SCA também mencionou uma tempestade de areia, um fenômeno comum no Egito nesta época do ano, que reduz a visibilidade e provocou o desvio do navio.
O Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), que tem sede em Singapura e é responsável pela gestão técnica do "Ever Given", informou que os 25 membros da tripulação estão a salvo. Não há contaminação nem danos na carga do navio, que tem capacidade para mais de 20.000 contêineres.
A empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, proprietária do cargueiro, admitiu nesta quinta-feira que enfrenta grandes dificuldades para trazer o navio à tona.
"Em cooperação com as autoridades locais e a empresa Bernhard Schulte Shipmanagement, estamos tentando desencalhar o navio, mas enfrentamos uma dificuldade extrema", afirmou a Shoei Kisen Kaisha em um comunicado. A empresa pediu "sinceras desculpas" pelos atrasos no tráfego.
Ligação marítima entre Europa e Ásia, o Canal de Suez permitiu que os navios não tivessem de dar a volta no continente africano (o que representa, por exemplo, 6.000 km a menos entre Singapura e Roterdã), mas também foi cenário de guerras e anos de inatividade.
Um incidente como o desta semana tem grandes consequências, porque 10% do comércio marítimo internacional passa por esta via, segundo os especialistas.
Uma ampliação feita entre 2014 e 2015, para acompanhar a evolução do comércio marítimo, facilitou o cruzamento de navios e diminuiu ainda mais o tempo de trânsito no canal. Quase 19.000 embarcações usaram o Canal de Suez ano passado, segundo a SCA.
Idealizado por Ferdinand de Lesseps, um empresário e diplomata francês, o colossal projeto levou dez anos de trabalho, entre 1859 e 1869, com a participação de um milhão de egípcios, de acordo com as autoridades.
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