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Revenda especulativa de consoles indigna gamers e políticos no Reino Unido

"Scalping" é uma prática que consiste em causar escassez de PS5 e Xbox e depois vendê-los a preços tão altos que alguns parlamentares estão exigindo sua proibição

Agência France-Presse
postado em 20/03/2021 14:17
 (crédito: TheRegisti / Unsplash)
(crédito: TheRegisti / Unsplash)

Os aficionados britânicos de videogames estão indignados com a revenda especulativa de consoles, chamada de "scalping", uma prática que consiste em causar escassez de PS5 e Xbox e depois vendê-los a preços tão altos que alguns parlamentares estão exigindo sua proibição.

"Estou tentando comprar um PS5 há quatro meses e não consigo encontrar a um preço normal", diz Tracey Ford, uma estudante de Manchester, no norte da Inglaterra.

Essa jogadora de 24 anos tentou de tudo: ir a lojas físicas, registrar-se para ser avisada de novos estoques... Mas nada funciona e "é muito frustrante", afirma à AFP.

Tudo por culpa do "scalping", técnica originada na especulação do mercado de ações que consiste em usar "bots" (robôs de computador que para simulam ações repetidas vezes de maneira padrão) para comprar grandes quantidades de um produto com muita rapidez e depois revendê-los a preços astronômicos.

A prática, legal no Reino Unido, afetava até então principalmente ingressos para shows ou calçados esportivos.

Mas assumiu uma nova dimensão com o lançamento de dois consoles altamente esperados no final de 2020 - o PlayStation 5 da Sony e o Xbox series da Microsoft - coincidindo com os confinamentos decretados contra o coronavírus.

Enquanto um PS5 normalmente custa entre 360-450 libras (500-625 dólares) dependendo do modelo, seu preço médio de revenda em plataformas como o eBay é de 650-750 libras.

E com a escassez nas lojas, algumas pessoas decidem pagar esse dinheiro, alimentando a prática.

Game over  

Segundo o pesquisador americano Michael Driscoll, da Georgia Tech, o "scalping" está "afetando atualmente" as placas gráficas RTX30 da Nvidia e Zen 3 da AMD, mas também e principalmente os "PS5 e Xbox series".

Desde seu lançamento, calcula que 52.000 exemplares de ambos os consoles foram revendidas no Reino Unido no eBay e StockX por um total de 42 milhões de libras (58 milhões de dólares), gerando 10 milhões de libras de lucro.

"Tirando por baixo", diz ele, que analisou apenas o "mercado cinza" do eBay e StockX, e não o mercado negro, "que provavelmente é muito maior".

Driscoll explica o repentino aumento na revenda por uma demanda muito maior do que o normal, já que os gamers "economizaram dinheiro ficando em casa" pela pandemia, e por uma oferta menor devido a uma "escassez global de silício", elemento necessário para fabricar certos componentes.

A situação "acabará por se estabilizar porque as pessoas comprarão o que querem e [os preços] cairão", acredita ele, "mas se as condições do mercado forem as mesmas quando o PS6 for lançado, isso acontecerá novamente".

Qual é a solução? Muitos jogadores pedem aos fabricantes que façam algo, mas nem a Sony nem a Microsoft se posicionaram e recusaram os pedidos de comentários da AFP.

Outros dizem que a responsabilidade recai sobre os varejistas que vendem os consoles em primeiro lugar. Um deles, Argos, afirma ter "implementado processos rigorosos" para evitar o rápido esgotamento do PS5.

"Sua compra é limitada a um por cliente e todos os pedidos duplicados são cancelados", disse uma porta-voz.

Mas os gamers pedem mais, como impor na web testes de "captcha", que pedem ao usuário uma ação impossível para os bots.

Um grupo de parlamentares britânicos apresentou um projeto de lei em meados de dezembro para proibir essa prática, chamando-a de "injusta para o consumidor".

"As pessoas estão realmente indignadas", disse à AFP Douglas Chapman, deputado do Partido Nacionalista Escocês (SNP), que apresentou o texto depois de receber dezenas de ligações de seus eleitores.

A proposta, que ainda está em estudo, tem poucas chances de sucesso, segundo seu promotor, que ainda assim espera "pressionar o governo" para "agir".

O ministério da Cultura garante que está "discutindo com representantes da indústria de videogames", que "já estão trabalhando em medidas adicionais", segundo nota.

Porém, para Daniel Sumner, jogador de 35 anos que mora em Plymouth, no sudoeste da Inglaterra, nem mesmo uma lei com uma "pequena multa será suficiente" para dissuadir os traficantes do lucro.

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