Símbolo para alguns da liberdade de expressão na Espanha, o rapper Pablo Hasél foi preso nesta terça-feira (16) para cumprir uma pena de nove meses de prisão por tuítes que atacavam a monarquia e as forças de segurança.
"Eles nunca vão nos parar, não vão nos dobrar!", gritou Hasél quando a polícia o escoltava para fora da Universidade de Lleida, na região da Catalunha, onde ele havia se barricado no dia anterior com dezenas de jovens.
"Morte ao Estado fascista", gritou no momento em que os agentes o introduziram na viatura, entre vaias de militantes que protestavam nesta cidade a 150 km de Barcelona.
De lá, ele foi levado diretamente para a prisão da cidade, informou Jordi Dalmau, chefe da polícia regional catalã na área. Manifestações em apoio a Hasél foram realizadas em Barcelona e outras cidades da Espanha na noite desta terça-feira.
Em Barcelona, cerca de 1.700 manifestantes gritaram "Liberdade para Pablo" e "Você não está sozinho". Alguns manifestantes encapuzados queimaram lixeiras e arremessaram objetos contra a polícia.
Condenado a nove meses de prisão por tuítes publicados entre 2014 e 2016, Hasél tinha até sexta-feira para se entregar voluntariamente e começar a cumprir sua pena por exaltar o terrorismo e insultos à Coroa e às forças de segurança.
Nas mensagens, o rapper atou a monarquia e chamou, por exemplo, de "mercenários de merda" as forças policiais, acusando-as de torturar e assassinar manifestantes e imigrantes.
Em 2014, o cantor já havia sido condenado a dois anos de prisão por glorificar o terrorismo em canções em que clamava pela morte da família real ou elogiava grupos extremistas responsáveis por ataques violentos.
Na ocasião, a prisão não foi realizada porque o rapper não tinha antecedentes e a pena não ultrapassava dois anos. Em entrevista por telefone à AFP, Hasél disse na sexta que não se entregaria à polícia.
"Eles terão que vir para me sequestrar e isso também servirá para que o Estado seja retratado pelo que é: uma falsa democracia", declarou desafiadoramente.
Na segunda ele se barricou no prédio da reitoria da universidade de sua cidade, Lleida, junto com dezenas de jovens que queriam dificultar sua prisão.
"Eles vão me prender de cabeça erguida por não ceder ao terror", postou o rapper em um de seus últimos tuítes, poucas horas antes da prisão.
Os policiais chegaram por volta das 06h30 (02h30 de Brasília) e, apesar de encontrarem algumas barricadas e contêineres para impedir seu acesso, conseguiram evacuar os ativistas sem "incidentes graves", segundo um porta-voz.
Em Madri e Barcelona foram organizadas manifestações em apoio a Hasél. Cerca de 200 artistas, entre os quais o cineasta Pedro Almodóvar, o ator Javier Bardem e o cantor e compositor Joan Manuel Serrat, assinaram um manifesto em sua defesa.
O escândalo incomoda o governo do socialista Pedro Sánchez, cuja porta-voz María Jesús Montero reconheceu na semana anterior que não havia "proporcionalidade" na condenação do rapper.
Na defensiva, o Executivo prometeu "uma revisão dos crimes relacionados aos excessos no exercício da liberdade de expressão", com o objetivo de impor sentenças "dissuasivas" e não de prisão.
Parceiro minoritário da coalizão de governo, o partido radical de esquerda Podemos denunciou abertamente a situação. "Todos aqueles que presumem uma 'plena normalidade democrática' e se consideram progressistas, deveriam se sentir envergonhados", tuitou a formação.
O caso de Hasél lembra o do rapper espanhol Valtonyc, que em 2018 partiu para a Bélgica horas antes de entrar na prisão para cumprir pena por insultos ao rei, glorificação do terrorismo e ameaças em suas canções.
A Bélgica rejeitou a extradição solicitada pela Espanha, alegando que suas ações não constituem um crime sob a lei belga. O caso está em processo de apelação.