A missão de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China não encontrou provas contundentes sobre a origem da pandemia que provocou 2,3 milhões de mortes no mundo e, embora considere extremamente improvável que o vírus tenha saído de um laboratório de Wuhan, não conseguiu identificar o animal que pode ter transmitido a doença ao ser humano.
Uma transmissão do coronavírus de um animal para outro e depois ao ser humano é a hipótese "mais provável", afirmou nesta terça-feira (9) Peter Ben Embarek, coordenador da delegação da OMS, em uma entrevista coletiva na cidade Wuhan, berço da epidemia, no centro da China.
Porém, as espécies animais ainda não foram identificadas e para isto serão necessárias "investigações mais específicas", afirmaram os especialistas.
Além disso, Embarek afirmou que "a hipótese de um acidente em um laboratório é extremamente improvável para explicar a introdução do vírus no homem".
Wuhan é considerada o marco zero da pandemia por ter registrado os primeiros casos de coronavírus no fim de 2019. Desde então, a pandemia matou mais de 2,32 milhões de pessoas no planeta e infectou 106,4 milhões.
"Não há evidências suficientes (...) para determinar se o Sars-Cov-2 se propagou em Wuhan antes de dezembro de 2019", disse Liang Wannian, chefe da equipe de cientistas chineses, que também integram a missão.
A missão da OMS é considerada extremamente importante para a luta contra epidemias futuras, mas teve dificuldades para acontecer porque a China relutou em permitir a entrada no país de especialistas internacionais de diferentes áreas, que incluíram, entre outras, epidemiologia e zoologia.
A OMS já havia alertado que seria necessário ter muita paciência para encontrar respostas.
Ao mesmo tempo, a esperança está nas vacinas. Mais de 135 milhões de doses foram aplicadas em todo o mundo, segundo um balanço atualizado da AFP nesta terça-feira, com base em fontes oficiais.
- "Muito cedo para rejeitar" -
A missão da OMS termina em meio a uma polêmica sobre a eficácia da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca para as pessoas mais idosas e contra a variante sul-africana do vírus.
A vacina AstraZeneca/Oxford, com a qual o Reino Unido começou a imunizar sua população em dezembro, já foi aprovada por vários países e também pela União Europeia. Mas alguns preferiram administrá-la apenas a pessoas com menos de 65 anos, ou até de 55, diante da falta de dados suficientes sobre sua eficácia entre as pessoas mais idosas.
A África do Sul, por exemplo, suspendeu o início de sua campanha de vacinação após um estudo que mostrou eficácia "limitada" da vacina da AstraZeneca contra sua variante do vírus.
"É cedo demais para rejeitar esta vacina, que é uma parte importante da resposta mundial à pandemia atual", advertiu Richard Hatchett, que comanda o CEPI, braço de pesquisa do mecanismo Covax, estabelecido pela OMS para tentar garantir uma distribuição justa das vacinas contra a covid-19 entre os países com menos recursos.
Além da polêmica com a AstraZeneca, muitos países tentam acelerar as campanhas de vacinação e a aprovação de novos fármacos.
O Irã, país do Oriente Médio mais afetado pela pandemia, começou nesta terça-feira a campanha de imunização com a vacina russa Sputnik V.
A Argentina, que já autorizou a Sputnik V, aprovou nesta terça-feira o uso em caráter emergencial da vacina Covishield, do laboratório indiano Serum Institute.
- "Crise de saúde mental" -
Nos Estados Unidos, a variante do vírus identificada inicialmente no Reino Unido se propaga rapidamente. Os casos dobraram em 10 dias e ameaçam provocar um novo pico epidêmico, segundo um estudo.
O congressista americano Ron Wright, de 67 anos, faleceu de covid-19 e se tornou o primeiro membro do Capitólio que morreu em consequência da doença, que já provocou 464.831 óbitos nos Estados Unidos.
Além das mortes, a pandemia está provocando uma "crise de saúde mental" para muitos, em particular os mais jovens. Ansiedade, depressão, automutilação e até suicídios afetam um número crescente de menores de idade nos Estados Unidos, alertam médicos, professores, pais e o governo.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), de março a outubro, as visitas a hospitais para emergências de saúde mental de jovens de 12 a 17 anos aumentaram 31% em relação a 2019, e de crianças de 5 a 11 anos, 24%.
Diante do avanço dos contágios, as restrições persistem e em alguns países são reforçadas, como na Holanda, cujo governo anunciou na segunda-feira a prorrogação até 2 de março do toque de recolher, uma medida que provocou os maiores protestos nos últimos 40 anos no país.
Nesta terça-feira, as autoridades do Reino Unido anunciaram que exigirão dois testes de diagnóstico aos viajantes que chegam ao país antes que sejam autorizados a sair da quarentena.
Outros países, como Israel, começam a flexibilizar o confinamento. Em Ontario, a província mais populosa do Canadá, confinada desde 26 de dezembro, os estabelecimentos comerciais não essenciais retomarão parcialmente as atividades a partir de quarta-feira.