Os Estados Unidos anunciaram nesta segunda-feira (8) sua intenção de "se envolver" novamente no Conselho de Direitos Humanos da ONU, marcando a ruptura com a administração de Donald Trump, que bateu a porta em 2018, acusando-a de hipocrisia, especialmente em relação a Israel.
"O presidente instruiu o Departamento de Estado a se envolver imediata e vigorosamente" no Conselho de Direitos Humanos da ONU, declarou em comunicado o chefe da diplomacia, Anthony Blinken.
"Sabemos que o Conselho de Direitos Humanos é um órgão cheio de falhas, que precisa reformar seu programa, seus membros e suas prioridades, incluindo a atenção desproporcional que dá a Israel", ressaltou Blinken.
"Para poder abordar as deficiências do Conselho e garantir que cumpra seu mandato, os Estados Unidos devem estar presentes à mesa e fazer uso de todo o peso de liderança diplomática", explicou, marcando o rompimento com a administração Trump, que na maioria das vezes escolheu a política da cadeira vazia.
"Fazemos isso porque sabemos que a forma mais eficaz de reformar e melhorar o Conselho é trabalhar com ele ao nível dos princípios", explicou o encarregado dos assuntos americanos Mark Cassayre, em mensagem transmitida durante uma reunião do Conselho por videoconferência.
"Quando funciona como deveria, o Conselho de Direitos Humanos destaca os países com os piores históricos de direitos humanos e pode ser um fórum importante para aqueles que lutam contra a injustiça e a tirania", disse Blinken.
Os Estados Unidos, portanto, voltarão a desempenhar seu papel como observador "e terão a oportunidade, nesse papel, de se dirigir ao Conselho, participar de negociações e aliar-se a outros para apresentar resoluções", explicou o chefe da diplomacia.
"Estamos totalmente convencidos de que, quando os Estados Unidos se envolvem de forma construtiva no trabalho do Conselho, com nossos aliados e amigos, mudanças positivas fiquem ao nosso alcance", acrescentou.
- Organização hipócrita -
O Conselho de Direitos Humanos, com sede em Genebra, é "encarregado de fortalecer a promoção e proteção dos direitos humanos no mundo" e também tem a missão de lidar com "situações de violação dos direitos humanos e fazer recomendações a respeito".
O Conselho é composto por 47 Estados-membros - alguns dos quais são regularmente denunciados por suas violações dos direitos humanos - que são eleitos pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
O governo Trump anunciou em junho de 2018 que estava deixando o Conselho.
"Estamos dando esse passo porque nosso compromisso não nos permite continuar fazendo parte de uma organização hipócrita e servindo aos seus próprios interesses, o que torna os direitos humanos objeto de zombaria", acusou Nikki Haley, então embaixadora na ONU em Nova York, ao lado do então secretário de Estado Mike Pompeo.
Na ocasião, ela acusou o Conselho de proteger "os autores de violações dos direitos humanos" e de constituir "uma fossa de preconceitos políticos".
Se os Estados Unidos insistiram no fato de que continuariam um arauto dos direitos humanos no mundo, essa decisão demonstrou a desconfiança de Donald Trump em relação aos organismos multilaterais.
Seu mandato também foi marcado pela retirada dos Estados Unidos do acordo climático de Paris, pela saída da Organização Mundial da Saúde (OMS) e sua estratégia de paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A nova administração do presidente Joe Biden anunciou desde o primeiro dia o retorno dos Estados Unidos ao acordo climático e à OMS.