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Alexei Navalny: A jornada do opositor de Putin que sobreviveu a envenenamento e agora enfrenta prisão

Ele tem milhões de seguidores nas redes sociais e publica informações que, segundo ele, revelam a profundidade da corrupção na Rússia de Putin

Navalny divulgou informações que revelam um suposto palácio de R$ 7,2 bilhões do presidente russo
YouTube/Alexei Navalny

A história de Alexei Navalny envolve espionagem, palácio, prisão e até veneno na cueca.

O principal líder da oposição russa teve destaque no noticiário internacional no segundo semestre de 2020, quando foi envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok e passou por uma longa recuperação.

No começo de 2021, depois de meses fora da Rússia, ele voltou para o país comandado por Vladimir Putin pela primeira vez desde seu envenenamento e foi preso. Agora, uma onda de protestos pedem a libertação de Navalny.

Antes de explicar os últimos capítulos da trajetória de Navalny, é importante lembrar do contexto da política nacional na Rússia: Putin comanda o país desde 1999. Ele é o segundo líder com mais tempo de poder no país, atrás apenas de Stálin. Ele é acusado pelos opositores de tentar ser "presidente vitalício" do país.

É nesse cenário que aparece Navalny, um ativista anticorrupção que é considerado o crítico mais feroz de Putin. Ele tem milhões de seguidores nas redes sociais e publica informações que, segundo ele, revelam a profundidade da corrupção na Rússia de Putin.

Veneno na cueca

Em agosto de 2020, Navalny passou mal durante um voo da Sibéria para Moscou e o avião precisou fazer um pouso de emergência na cidade de Omsk, onde foi levado às pressas para a UTI. Depois, após negociações de alto nível com as autoridades russas, ele foi transportado de avião para Berlim e tratado lá enquanto era mantido em coma induzido.

O governo alemão disse que Navalny foi envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok, o que deu ainda mais atenção ao caso, ao reforçar suspeitas de que o Estado russo esteja por trás do envenenamento. O Kremlin negou as acusações de envolvimento.

Conhecidas como agentes neurotóxicos, essas substâncias são usadas em pó ou em forma líquida. E são tão perigosas que só podem ser fabricadas em laboratórios avançados, que são em grande maioria de propriedade de governos, ou controlados por eles.

Inicialmente, acreditava-se que o envenenamento teria ocorrido por meio do chá que Navalny bebeu no dia. No entanto, depois que se recuperou, ele rastreou os indivíduos que acreditava terem participado de seu atentado. Passando-se por uma autoridade da área de segurança, Navalny conseguiu enganar um expert em armas que teria admitido que o caso foi mesmo de envenenamento. E a maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O governo russo negou novamente as acusações.

Ainda na Alemanha, Navalny relatou que sentiu calafrios inicialmente e nenhuma dor, "mas parecia o fim".

"Não dói nada, não é como um ataque de pânico ou algum tipo de transtorno. No começo você sabe que algo está errado, e então seu único pensamento é: 'É isso, vou morrer.' "

EPA
Navalny foi transportado de avião para Berlim dois dias depois de entrar em coma, em agosto de 2020

Prisão e protestos

Em janeiro de 2021, Navalny voltou para a Rússia, pela primeira vez desde que foi envenenado, e foi detido logo após desembarcar em Moscou. O motivo é que ele teria violado condições de uma sentença de liberdade de anos atrás.

Depois, um tribunal de Moscou sentenciou Navalny a três anos e meio de prisão por violar as condições de uma pena suspensa, ao não se apresentar regularmente para autoridade penitenciárias.

A prisão de Navalny gerou uma onda de protestos pela libertação dele e contra o Kremlin nos últimos dias. Milhares se reuniram em toda a Rússia, apesar da forte presença policial. Houve cenas violentas em Moscou — um vídeo em rede social mostra a polícia batendo e prendendo apoiadores de Navalny.

Os últimos episódios levantaram reações de outros governos. Depois da sentença, União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido condenaram o veredito do tribunal, demandando que o líder da oposição seja imediatamente libertado. O governo alemão disse que discutirá medidas adicionais com seus parceiros da União Europeia, acrescentando que novas sanções não podem ser descartadas.

Palácio

YouTube/Alexei Navalny
Segundo Navalny, propriedade de 70 km² foi paga com "maior suborno da história"

Também em janeiro deste ano, Navalny divulgou informações que revelam um suposto palácio de R$ 7,2 bilhões do presidente russo. Ele acusa Putin de ter gastado recursos ilícitos na extravagante mansão no Mar Negro.

O material foi publicado pela equipe de Alexei Navalny depois que ele foi preso em seu retorno a Moscou. O vídeo já foi visto mais de 100 milhões de vezes.

Navalny mostrou detalhes do palácio suspeito. Ele descreve a propriedade como tendo 39 vezes o tamanho do principado de Mônaco.

O Kremlin nega qualquer envolvimento. As acusações de Navalny sobre o envolvimento do serviço de segurança russo foram, no entanto, corroboradas por reportagens de jornalistas investigativos.

As reportagens afirmam que a propriedade na cidade turística de Gelendzhik foi construída com fundos ilícitos fornecidos por membros do círculo íntimo de Putin, incluindo oligarcas do petróleo e bilionários.

"(Eles) construíram um palácio para seu chefe com esse dinheiro", diz Navalny no vídeo.

Ele alega que o Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSB) possui cerca de 70 km² de terreno ao redor da residência privada.

A reportagem investigativa descreve vários detalhes da propriedade e afirma que ali haveria um cassino, um complexo de hóquei no gelo subterrâneo e um vinhedo.

"Tem cercas inexpugnáveis, seu próprio porto, sua própria segurança, uma igreja, seu próprio sistema de segurança, uma zona de exclusão aérea e até mesmo seu próprio posto de controle de fronteira", diz Navalny.

"É um Estado separado dentro da Rússia", acrescenta. "E nesse Estado existe um único czar insubstituível: Putin."


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