Uma professora de educação física teria flagrado um momento histórico enquanto gravava sua aula de aeróbica. Sem querer, a profissional filmou o momento em que tropas do Exército chegam ao parlamento para tomar o poder em Mianmar.
As imagens têm feito grande sucesso nas redes sociais. A gravação foi publicada no Facebook pela própria professora, Khing Hnin Wai, que afirma trabalhar para o Ministério da Educação de Mianmar. O registro original supera 26 mil reações e 1,2 mil comentários.
No Twitter, o vídeo ganhou destaque após ser compartilhado pelo cientista político Àngel Marrades, da Universidade de Salamanca, na Espanha. O post dele ultrapassa 80 mil curtidas e 20 mil compartilhamentos.
Alguns internautas questionaram a autenticidade do vídeo. Há quem acuse a professora de ter inserido o fundo no vídeo. Outros apontam que a sombra da profissional não acompanha corretamente seus movimentos. Em sua página no Facebook, contudo, Khing já havia publicado aulas gravadas exatamente no mesmo local, sendo que uma das postagens data de novembro do ano passado.
Golpe de estado
No dia da posse do Parlamento que venceu as eleições de novembro do ano passado, o Exército de Mianmar prendeu a líder da Liga Nacional para a Democracia (LND), Aung San Suu Kyi; o presidente, Win Myint; e outros nomes do partido governante. Horas antes, os militares afirmaram, pelo Facebook, que cumpririam a Constituição e respeitariam o resultado do pleito. Porém, a comunidade internacional já alertava para o risco de um possível golpe, especialmente depois que o general Min Aung Hlaing, chefe do Tatmadaw — as Forças Armadas do país — declarou, na quarta-feira passada, que abolir as regras constitucionais “poderia ser necessário sob certas circunstâncias”.
O partido da ganhadora do Nobel da Paz de 1991 venceu massivamente as eleições legislativas, mas o Exército insiste que houve inúmeras irregularidades. “Ouvimos que (Suu Kyi) está detida em Naypyidaw (capital do país), supomos que o Exército está organizando um golpe de Estado”, disse à agência de notícias France-Presse um porta-voz da LND, Myo Nyunt, na manhã de ontem (domingo à noite em Brasília). As Forças Armadas não se pronunciaram.
As linhas telefônicas de Naypyitaw foram cortadas, interrompendo a comunicação com o país do sudeste asiático, mas o correspondente da rede britânica BBC reportou ter visto soldados nas ruas de Yangon e da capital. A emissora de tevê estatal do país informou, pelo Facebook, que estava com “dificuldades técnicas” para fazer transmissões, e estrangeiros relataram dificuldades para ligar para o país. Depois, a internet e a energia elétrica também teriam sido desligadas.
Na sexta-feira, a delegação da União Europeia, a embaixada norte-americana e outras 15 representações diplomáticas no país juntaram-se à Organização das Nações Unidas (ONU) na preocupação sobre um possível golpe de Estado e pediram para Mianmar “aderir às normas democráticas”. “Esperamos a convocação pacífica do Parlamento, em 1º de fevereiro, com a eleição do presidente e dos chefes das duas assembleias. Nos opomos a qualquer tentativa de alterar o resultado das eleições, ou de impedir a transição democrática em Mianmar”, ressaltou a nota.
Há 10 anos, o país pôs fim a um regime militar, no poder há quase meio século. O próprio Exército restabeleceu a democracia, não sem antes elaborar a Constituição, que prevê uma divisão de poderes entre civis e generais. O chefe do Tatmadaw é considerado, hoje, o homem mais poderoso de Mianmar.