A polícia de Mianmar usou balas de borracha e anunciou mais detenções de manifestantes neste sábado (27/1) em Yangon para dispersar novos protestos que exigem o retorno da democracia, um dia depois da ruptura do representante do país na ONU com a junta militar que tomou o poder.
O país foi abalado por uma onda de manifestações a favor da democracia desde o golpe militar que derrubou a dirigente civil Aung San Suu Kyi em 1º de fevereiro. As autoridades aumentaram gradualmente o uso da força para dispersar os protestos, com gás lacrimogêneo, jatos de água, balas de borracha e, em alguns casos, munição real.
Neste sábado, a polícia usou balas de borracha para dispersar uma manifestação no cruzamento Myaynigone, em Yangon, que foi cenário de um grande confronto na véspera.
"O que a polícia está fazendo? Está protegendo um ditador louco!", gritaram os manifestantes.
Centenas de manifestantes da etnia Mon se reuniram para celebrar sua data nacional, aos quais se uniram outros grupos étnicos para protestar contra o golpe de Estado.
Os manifestantes, muitos deles com máscaras de gás, capacetes e escudos improvisados, montaram barricadas nas ruas próximas. Repórteres locais transmitiram as cenas caóticas ao vivo no Facebook, incluindo os momentos em que os tiros foram ouvidos.
Ao menos 20 pessoas foram detidas, incluindo três jornalistas: um fotógrafo da agência americana Associated Press, um cinegrafista e um fotógrafo das agências Myanmar Now e Myanmar Pressphoto, respectivamente.
"Vamos tentar encontrar outra forma de protestar, claro que temos medo da repressão", disse Moe Moe, de 23 anos, usando um pseudônimo. "Queremos lutar até vencer".
"Esta revolução deve vencer"
No cruzamento Hledan, bombas de efeito moral foram usadas. Uma fonte fonte policial disse que mais de 140 pessoas foram detidas.
Um protesto perto de um centro comercial em Tamwe Township também foi interrompido pela polícia.
Na sexta-feira, o embaixador de Mianmar na ONU, Kyaw Moe Tun, pediu em um discurso emocionado o "fim do golpe militar", depois que a polícia dispersou os manifestantes em três cidades importantes do país. Quase 100 pessoas foram detidas na sexta-feira, 31 delas em Yangon.
"Precisamos da ação mais enérgica possível da comunidade internacional para colocar um fim imediatamente ao golpe de Estado militar, acabar com a opressão das pessoas inocentes e devolver o poder do Estado ao povo", declarou Kyaw Moe Tun durante uma sessão especial da Assembleia Geral dedicada a Mianmar.
Em poucas frases em birmanês, ele pediu aos "irmãos e irmãs" que continuem a luta contra a junta.
"Esta revolução deve vencer", afirmou, com três dedos levantados, o gesto de união dos manifestantes, ao final de seu discurso, que durou 12 minutos e foi muito aplaudido.
O último caso de um embaixador que se pronunciou contra as autoridades de seu país na ONU havia acontecido em 2011, quando o representante líbio fez um discurso contra o ditador Muamar Khadafi durante a revolta na Líbia.
"Mostraremos aos militares (birmaneses) que suas ações terão consequências", advertiu a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield
Em um vídeo, a representante da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, pediu aos 193 membros da Assembleia General que "enviem coletivamente um sinal claro a favor da democracia em Mianmar".
Audiência na segunda-feira
Para justificar o golpe de Estado, os militares alegaram fraudes nas eleições gerais de novembro, as segundas desde a dissolução da junta em 2011 e que foram vencidas por ampla margem pelo partido de Aung San Suu Kiy.
Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz em 1991, não é vista em público desde sua prisão domiciliar na capital Naypyidaw no momento do golpe. Ela foi acusada de importar ilegalmente walkies-talkies e depois de violar as restrições do coronavírus.
Apesar de vários pedidos, seu advogado Khin Maung Zaw não terá contato com a cliente até uma audiência programada para segunda-feira.
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