Washington, EUA - Os democratas apresentarão de maneira detalhada nesta quarta-feira (10/2) as denúncias contra Donald Trump, acusado de "incitação à insurreição", depois do apelo à emoção durante o primeiro dia do julgamento contra o ex-presidente com a exibição de um vídeo impactante do ataque ao Capitólio.
O julgamento, que acontece no Senado, é uma "instrumentalização política" e "dividirá" os Estados Unidos, argumentou na segunda-feira um dos advogados de Trump, David Schoen. "Muitos americanos o veem como o que é: uma tentativa de um grupo de políticos de manter Donald Trump fora da política", disse.
Se Trump for considerado culpado, os democratas organizarão outra votação para evitar que ele possa concorrer em outras eleições. Mas com um apoio ainda bastante sólido dos republicanos, o ex-presidente tem grandes possibilidades de ser absolvido, o que pode acontecer no início da próxima semana.
Trump, que mora na Flórida desde que deixou a Casa Branca em 20 de janeiro, não vai testemunhar no processo.
O Senado começará a aprofundar o processo a partir de meio-dia (14h de Brasília), com uma exposição dos fatos. Cada parte terá 16 horas para apresentar seu caso, em uma sequência que pode durar até quatro dias.
Desde o início do processo na terça-feira, os "procuradores" democratas parecem decididos a recordar aos 100 senadores que atuam como jurados, e a todos os americanos, a violência do ataque que deixou cinco mortos no Capitólio em 6 de janeiro.
A acusação é baseada em "fatos claros e sólidos", disse o congressista que lidera a acusação, Jamie Raskin, no mesmo plenário que foi invadido violentamente pelos manifestantes pró-Trump.
Durante vários minutos, sem fazer comentários, Raskin exibiu um vídeo que colocou em perspectiva as sequências que ilustram o ataque à sede do Congresso dos Estados Unidos:
- O discurso de Trump chamando seus milhares de seguidores reunidos em frente à Casa Branca para se manifestarem "de maneira pacífica e patriótica" em direção ao Capitólio. "Nunca recuperarão nosso país sendo fracos", declarou o então presidente à multidão.
- A abertura solene das sessões legislativas para certificar a vitória de Joe Biden, rival de Trump nas eleições de novembro.
- E os manifestantes rompendo cercos policiais e entrando no Capitólio, vagando pelos corredores em busca de congressistas odiados, enquanto representantes, senadores e o vice-presidente Mike Pence eram evacuados do Senado ou se escondiam nas galerias da Câmara dos Representantes.
Raskin também lembrou que duas horas após o ataque, Trump tuitou um vídeo no qual dizia que as eleições foram uma "fraude" e, embora tenha pedido aos manifestantes que voltassem para casa, acrescentou: "Amamos vocês". Se estes acontecimentos "não são passíveis de acusação, então nada é", concluiu Raskin.
"Julgamento na cena do crime"
Em uma situação sem precedentes, os senadores que atuam como jurados também foram, ao mesmo tempo, testemunhas e vítimas do ataque.
"Não é muito frequente que um julgamento aconteça na cena do crime", declarou à AFP o senador democrata Chris Murphy.
O Capitólio permanece isolado, com cercas de metal e membros da Guarda Nacional fortemente armados ao redor do edifício. Medidas de segurança inéditas que recordam a violência de 6 de janeiro.
Na terça-feira, os debates se concentraram na constitucionalidade do processo: é possível levar adiante um procedimento de destituição contra um ex-presidente?
Para os advogados de Trump o processo é "absurdo e inconstitucional fazer um julgamento político contra um cidadão comum", um argumento repetido por muitos republicanos.
"Os presidentes não podem inflamar uma insurgência em suas últimas semanas (no cargo) e depois sair como se nada tivesse acontecido", afirmou Joe Neguse, outro "procurador" democrata.
No final do dia, o Senado votou 56-44 a favor da constitucionalidade do julgamento histórico. Seis republicanos se juntaram a 50 democratas.
Mas somar 67 votos para obter a condenação de Trump não será fácil, embora alguns republicanos tenham criticado o papel de Trump no ataque.
Apesar de ter considerado "eficaz" o vídeo apresentado pelos democratas, o senador James Inhofe afirmou à AFP que não mudará seu voto. Outro republicano, Mike Braun, afirmou não ter encontrado "novas informações" que mudariam sua opinião.
Esta é a primeira vez que um ex-presidente dos Estados Unidos é objeto de um julgamento político depois de deixar o cargo.
Em 13 de janeiro, Trump se tornou o primeiro presidente em exercício alvo de um segundo processo de impeachment na Câmara de Representantes, após a acusação em 2019 por pressionar a Ucrânia para prejudicar seu então rival Joe Biden, um processo do qual foi absolvido em fevereiro de 2020.
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