Milhares de cidadãos saíram às ruas de Mianmar nesta segunda-feira (8) para protestar contra o golpe de Estado que derrubou o governo de Aung San Suu Kyi há uma semana e, pela primeira vez, as novas autoridades fizeram uma advertência contra os manifestantes e afirmaram que poderiam responder às ameaças contra a segurança pública.
"Devem ser adotadas ações com base na lei (...) contra as infrações que perturbam, impedem e destroem a estabilidade do Estado, a segurança pública e o Estado de direito", anunciou a emissora MRTV, controlada pelo Estado.
Esta é a primeira advertência das autoridades desde o início das manifestações no sábado em Yangon, a capital econômica de Mianmar.
O papa Francisco falou nesta segunda pelo segundo dia consecutivo sobre a situação em Mianmar e pediu a "rápida libertação" de todos os detidos.
Também nesta segunda-feira, os trabalhadores responderam à convocação de greve geral e se uniram aos protestos.
"Não vamos trabalhar mesmo que reduzam nossos salários", declarou à AFP Hnin Thazin, funcionário de uma confecção. "Não quero ditadura", completou.
Além disso, os protestos contaram com a presença de monges e novamente de estudantes, que exibiram bandeiras com as cores da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, detida desde segunda-feira passada.
"Libertem nossos dirigentes", "Respeitem nossos votos", "Rejeitem o golpe de Estado", afirmavam os cartazes.
- "Não temos medo" -
"Antes vivíamos com medo, mas tivemos um governo democrático durante cinco anos. Já não temos medo. Não vamos nos dar por vencidos", disse Kyaw Zin Tun, engenheiro de 29 anos.
Em Naypyidaw, capital do país, as forças de segurança birmanesas usaram jatos de água para dispersar os manifestantes. Duas pessoas ficaram feridas, de acordo com testemunhas.
No domingo, as manifestações, as maiores desde a revolta popular de 2007, que foi violentamente reprimida pelo Exército, aconteceram sem incidentes.
"Na segunda-feira, a revolução em todo o país contra a ditadura", afirmava uma mensagem distribuída à imprensa, que convocava funcionários públicos e trabalhadores do setor privado a unir-se ao movimento.
Dezenas de funcionários de vários ministérios entraram em greve na semana passada em sinal de protesto.
Qual é o objetivo dos manifestantes?, pergunta Soe Myint Aung, analista do Centro de Pesquisas Independente de Yangon. "Retornar ao frágil equilíbrio entre governo civil e militares de antes das legislativas de novembro de 2020 ou remover totalmente o poder do Exército?".
- Liberdade para os detidos -
No dia 1 de fevereiro, os generais golpistas acabaram com uma frágil transição democrática: eles instauraram o estado de emergência por um ano e prenderam Aung San Suu Kyi, além de outros dirigentes da LND.
Ao menos 150 pessoas - deputados, autoridades locais, ativistas - continuam detidos, de acordo com ONGs e fontes da LND.
Nesta segunda-feira, o papa Francisco pediu a rápida libertação de todos os detidos.
"O caminho para a democracia empreendido nos últimos anos se viu bruscamente interrompido pelo golpe de Estado da semana passada. Isso provocou a prisão de vários dirigentes políticos que espero que sejam soltos rapidamente, como estímulo ao diálogo sincero pelo bem do país", declarou o papa.
Na semana passada, a ONU também pediu a libertação de todos os detidos, mas não condenou formalmente o golpe de Estado. China e Rússia, apoios tradicionais do Exército birmanês nas Nações Unidas, se opõem a uma resolução nesse sentido.
Estados Unidos e União Europeia ameaçaram adotar sanções contra Mianmar.
As conexões com a internet foram restabelecidas parcialmente no domingo, depois de um intenso bloqueio de mais de 24 horas.
Os dados móveis também foram restabelecidos, segundo a empresa norueguesa Telnor, uma das principais operadoras no país.
O acesso ao Facebook, ferramenta de comunicação mais utilizada pelos birmaneses, permanecia com restrições, no entanto.
Mianmar viveu sob o jugo dos militares durante quase 50 anos desde sua independência em 1948.
Em 2010 teve início uma liberalização progressiva e um governo civil, liderado por Aung San Suu Kyi, chegou ao poder depois da vitória da LND nas eleições de 2015.
O partido venceu novamente por ampla maioria as legislativas de novembro, eleições que os militares consideram fraudulentas, embora os observadores internacionais não tenham constatado problemas.
Na realidade, os generais temem perder influência após a vitória da LND, que poderia tentar reformar Constituição, muito favorável aos militares. O exército prometeu eleições livres após o estado de emergência, mas a população recebeu o anúncio com ceticismo.
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