No segundo fim de semana seguido de manifestações para exigir a libertação do opositor Alexei Navalny, mais de 4,4 mil pessoas foram presas pela polícia russa. Em todo o país, milhares foram às ruas, ignorando as advertências do governo, que, no sábado passado, encarcerou cerca de 4 mil. Segundo a organização não governamental OVD-Info, especializada no monitoramento das mobilizações, ontem houve 4.407 prisões, sendo 1.365 em Moscou. Veículos de comunicação oposicionistas relataram que a mulher de Navalny, Yulia Navalnaya, está entre os detidos.
Principal voz da oposição ao presidente Vladimir Putin, o ativista Alexei Navalny, 44 anos, foi preso em 17 de janeiro, ao desembarcar em Moscou pela primeira vez desde que foi envenenado na Sibéria, em agosto do ano passado (leia mais nesta página), quando foi levado para a Alemanha. Do cárcere, ele pediu que os apoiadores fossem às ruas para se manifestarem contra a detenção, criticada por líderes europeus e pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Segundo o Serviço Penitenciário Federal (Fsin), o ativista foi preso por “múltiplas violações” de uma sentença de liberdade condicional de sete anos atrás. O órgão informou que ele “será mantido sob custódia” até uma decisão judicial.
Ontem, nos centros de Moscou e São Petersburgo, muitos policiais e agentes da Guarda Nacional foram mobilizados. “Putin é um ladrão!”, “Liberdade!”, gritavam os manifestantes, ao passarem pelo centro da capital russa. A polícia limitou o acesso a várias ruas no e fechou estações de metrô, numa decisão rara. Apesar das ameaças, Ekatarina Britshkina, 39 anos, não hesitou em protestar na capital russa e garantiu à agência de notícias France-Presse que estava “com mais medo do que aconteceria no país se ela não saísse às ruas”.
No fim da tarde, quando a mobilização foi totalmente dispersada, alguns se perguntavam se o ato traria resultados. “É verdade que nos questionamos se esses protestos farão algum bem”, disse Nadia, estudante de 21 anos. “Vai demorar ainda mais até que Navalny esteja livre. E ainda mais tempo antes que a Rússia seja livre”, acrescentou.
Em São Petersburgo, a segunda maior cidade do país, quase 2 mil pessoas que se reuniram em uma praça no centro da cidade foram dispersadas pela tropa de choque. “Putin é mau. Não há futuro com ele, é impossível viver com esse salário e tão pouco trabalho”, reclamou Andrei, manifestante de 30 anos. Também houve passeatas em cidades como Vladivostok, onde dezenas de manifestantes fugiram da polícia pelas águas geladas da Baía de Amur. Milhares de pessoas enfrentaram temperaturas de até -20°C em Novosibirsk, na Sibéria, para exigir a libertação do opositor.
Processos
Nos dias anteriores, as autoridades alertaram os apoiadores de Navalny. A polícia advertiu que os manifestantes poderiam ser processados por “tumultos em massa” se os comícios se tornassem violentos. A Justiça russa impôs prisão domiciliar, na sexta-feira, à maioria dos aliados próximos ao ativista, incluindo seu irmão, Oleg, e a opositora Liubov Sóbol, dois dias após uma série de buscas à casa de sua esposa e às instalações da organização que ele encabeça, o Fundo de Luta contra a Corrupção, entre outras.
A apresentação do líder opositor aos juízes está marcada para esta semana. Navalny tem sido alvo de várias ações judiciais desde seu retorno à Rússia, que ele acredita serem politicamente motivadas. Os protestos também são alimentados pela divulgação de uma investigação do opositor acusando o presidente Vladimir Putin de se beneficiar de um enorme palácio às margens do Mar Negro, um vídeo assistido mais de 100 milhões de vezes no YouTube.
No Twitter, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, criticou a repressão às manifestações por meio do “uso persistente de táticas brutais” e instou Moscou a “libertar aqueles que foram presos, incluindo Alexei Navalny”. O ministério das Relações Exteriores russo foi rápido em apontar essas acusações como “interferência grosseira nos assuntos internos” da Rússia: “A rude interferência dos Estados Unidos nos assuntos internos da Rússia é um fato comprovado, assim como a promoção de informações falsas e chamadas para participar de ações ilegais por plataformas on-line controladas por Washington”, disse o órgão, no perfil do Facebook.
Mais tarde, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, denunciou em um tuíte as prisões em massa e o “uso desproporcional da força” contra manifestantes e jornalistas, e afirmou que “a Rússia precisa cumprir seus compromissos internacionais”.