Milhares de pessoas voltaram às ruas de Varsóvia na noite desta sexta-feira (29) para protestar contra a entrada em vigor de uma sentença polêmica que praticamente proíbe o aborto.
Também houve manifestações em outras cidades polonesas pela terceira noite consecutiva desde a publicação, na quarta-feira, da sentença do Tribunal Constitucional no Diário Oficial.
Por desejo da coalizão de direita ultracatólica no poder, esta sentença proíbe a interrupção voluntária da gravidez em caso de anomalias fetais.
A partir de agora fica proibido qualquer aborto, exceto em casos de estupro ou de risco de vida para a mãe.
"Meu corpo, minha escolha", "Eu penso, eu sinto, eu decido", "A revolução tem um útero", "Você tem sangue nas mãos" diziam alguns cartazes dos manifestantes em Varsóvia, onde milhares de pessoas responderam à convocação da Greve das Mulheres, o principal movimento que organiza os protestos, comprovaram jornalistas da AFP.
Muitos manifestantes usavam máscaras estampadas com um raio vermelho, o símbolo dos ativistas pró-aborto e, ao som de tambores, advertiam que o governo será "abolido pelas mulheres".
Algumas usavam lenços verdes em volta do pescoço, o símbolo das ativistas pelo direito ao aborto na Argentina, que conseguiram legalizar a prática no país no mês passado.
O protesto em Varsóvia terminou sem incidentes em frente à residência de Jaroslaw Kaczynski, líder do partido Lei e Justiça (PiS) no poder, protegido por um forte dispositivo policial. Depois de um "festival da liberdade" com música, dança e palavras de ordem, os organizadores pediram aos manifestantes que voltassem para casa.
Está prevista uma suspensão dos protestos durante o fim de semana.
A Polônia, um país de população majoritariamente católica, já tem uma das leis mais restritivas da Europa ao aborto.
Atualmente, são realizados menos de 2.000 abortos legais ao ano, segundo cifras oficiais. Mas as organizações feministas estimam que anualmente sejam realizados cem vezes mais, uns 200.000, de forma ilegal ou no exterior.
O governo afirma que a nova proibição porá fim aos "abortos eugênicos", em alusão aos abortos de fetos diagnosticados com síndrome de Down, mas muitas organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que a medida obrigará as mulheres a levarem a termo gestações inviáveis.