Bagdá, Iraque - Dois homens-bomba se explodiram nesta quinta-feira (21) em um mercado no centro de Bagdá, matando 32 pessoas e deixando mais de 100 feridos, no ataque mais mortal em três anos na capital iraquiana.
Um primeiro homem acionou seu cinto de explosivos no meio de vendedores e compradores num mercado de roupas de segunda mão na Praça Tayaran, informou o Ministério do Interior.
Enquanto uma multidão se formava para tentar ajudar as vítimas, um segundo homem-bomba detonou seus explosivos, acrescentou o Ministério.
Segundo o último balanço comunicado à AFP por uma agência oficial iraquiana, 32 pessoas morreram e 110 ficaram feridas.De acordo com o ministro, todos os mortos registrados até agora morreram no local.
Os médicos dizem que estão sobrecarregados na metrópole de dez milhões de habitantes, onde o Ministério da Saúde anunciou que colocou todo o pessoal médico em alerta máximo.
Na praça, um cruzamento movimentado de Bagdá, poças de sangue eram visíveis, assim como pedaços de roupas rasgadas pelas explosões, observou um fotógrafo da AFP.
Soldados e paramédicos foram enviados à praça, com os primeiros bloqueando o acesso e os segundos ocupando-se em mover corpos ou ajudar feridos, em um balé de ambulâncias com sirenes inebriantes.
Três anos atrás, no mesmo lugar, um ataque semelhante matou 31 pessoas.
Reunião eleitoral
O ataque foi parecido com outro realizado na mesma praça em 2018, que deixou 31 mortos há três anos.
Como em 2018, o ataque desta quinta-feira coincidiu com os preparativos das autoridades para a organização das eleições legislativas que no Iraque são geralmente repletas de violência.
As autoridades propuseram adiar as legislativas antecipadas, previstas pra junho, até outubro e, com isso, dar mais tempo à Comissão Eleitoral para que organize as eleições. O adiamento depende do voto do Parlamento.
O presidente iraquiano, Salam Saleh, denunciou no Twitter "tentativas malignas de abalar a estabilidade do país".
"Um ato tão deplorável não vai prejudicar a marcha do Iraque para a estabilidade e prosperidade", disse por sua vez a mssão da ONU no Iraque que, assim como a embaixada dos Estados Unidos, condenou o ataque.
O papa Francisco lamentou "este ato de brutalidade sem sentido" e afirmou que reza "pelas vítimas mortais e suas famílias, pelos feridose pela equipe de emergência que está presente", em um telegrama a Barham Saleh. O pontífice pretende visitar o Iraque no início de março.
Retirada americana
O duplo atentado suicida desta quinta ainda não foi reivindicado, mas esse modus operandi é o mesmo utilizado pelo grupo Estado Islâmico (EI), que chegou a ocupar quase um terço do Iraque a partir de 2014 antes de Bagdá declarar vitória sobre os jihadistas no final de 2017.
Desde então, as células jihadistas se refugiaram nas muitas áreas montanhosas e desérticas do país. Até agora, porém, o EI assumiu a responsabilidade apenas por ataques em pequena escala, geralmente realizados à noite contra posições militares em zonas isoladas longe das cidades.
Os últimos ataques com muitas vítimas fatais em Bagdá datam de junho de 2019.
O atentado de hoje ocorre no momento em que os Estados Unidos reduzem o número de suas tropas no Iraque para 2.500, uma queda que "reflete o aumento da capacidade do Exército iraquiano", nas palavras do chefe do Pentágono, Christopher Miller.
Essa redução "não significa uma mudança na política dos Estados Unidos", frisou.
"Os Estados Unidos e as forças da coalizão permanecem no Iraque para garantir uma derrota duradoura" do EI.
Os Estados Unidos estão à frente de uma coalizão internacional implantada no Iraque desde 2014 para combater o EI.
Quase todas as tropas dos outros estados membros da coalizão deixaram o país em 2020, no início da nova pandemia de coronavírus.