Uma das principais vozes de oposição a Vladimir Putin, Alexei Navalny, 44 anos, foi preso ontem, assim que chegou ao Aeroporto de Sheremetievo, em Moscou. O também ativista anticorrupção vinha da Alemanha, onde se tratou de um envenenamento que, segundo ele, foi operado pelos serviços especiais russos (FSB) a pedido do presidente. De acordo com autoridades locais, Navalny violou as condições de uma pena de prisão suspensa recebida em 2014 e, por isso, foi detido. Pelas regras, ele teria que se apresentar pelo menos duas vezes por semana à administração penitenciária. O líder opositor, porém, deu entrada em hospital de Berlim, em 22 de agosto, para se recuperar da suposta tentativa de assassinato ocorrida dois dias antes.
A bordo da aeronave que o deixou em Moscou, Navalny disse a jornalistas que não tinha medo de ser preso. “Serei preso? É impossível, sou inocente”, afirmou. A detenção ocorreu quando o ativista estava ao lado de sua esposa, Yulia, prestes a entregar seu passaporte no controle de fronteira. Segundo os serviços penitenciários russos (FSIN), ele ficará preso “até a decisão do tribunal”. “Alexei foi detido sem explicações (...) Eles não deixaram eu me aproximar dele depois de cruzar a fronteira”, denunciou sua advogada, Olga Mijailov.
O plano inicial era de que o avião em que estava o líder opositor desembarcasse no Aeroporto Internacional de Vnukovo, também em Moscou. Segundo jornalistas da agência France-Presse (AFP) que estavam na aeronave, o piloto do avião anunciou, em um primeiro momento, um atraso de 30 minutos no voo devido a um “problema técnico”. Depois, informou que o destino seria alterado para Sheremetievo.
Dezenas de aliados aguardavam Navalny em Vnukovo, acompanhados de perto pela polícia de choque. Alguns foram presos. Entre eles, Liubov Sobol, uma figura em ascensão na oposição russa, que foi solto horas depois. A Justiça havia alertado sobre os riscos de participação de um “evento público” não autorizado no aeroporto. Segundo a imprensa local, ativistas que sairiam de São Petersburgo para Moscou com o objetivo de se reunir com o opositor foram detidos antes de iniciar a viagem. A organização não governamental (ONG) OVD-Info calcula que 65 pessoas foram presas nas duas cidades.
O principal inimigo de Vladimir Putin anunciou sua intenção de retorno à Rússia na quarta-feira e conclamou seus apoiadores a recebê-lo. Segundo ele, a possibilidade de detenção era uma tentativa de amedrontá-lo. “Aqui estou em casa. Não tenho medo (...) porque sei que tenho razão e que os processos contra mim são completamente montados. Não tenho medo de nada e vocês não devem temer nada”, disse Navalny ao chegar a Moscou, pouco antes de sua prisão.
Silenciamento
A reação internacional à detenção do ativista foi imediata. Para a ONG Anistia Internacional, a prisão fez dele um “prisioneiro de consciência”, vítima de uma “campanha implacável” das autoridades russas para “silenciá-lo”. Pelo Twitter, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu a Moscou a libertação “imediata” de Navalny e classificou sua prisão como “inaceitável”.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, por sua vez, pediu às autoridades russas que “respeitem os direitos” de Navalny e exigiu sua “libertação imediata”. “A politização do sistema judicial é inaceitável”, acrescentou o ex-chanceler espanhol. A Lituânia solicitou a “discussão de novas sanções” contra a Rússia e a Polônia instou uma “resposta rápida”.
Futuro assessor de segurança nacional do presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden, Jake Sullivan escreveu, na mesma rede social, que “os ataques do Kremlin contra o senhor Navalny não são só uma violação dos direitos humanos, mas uma afronta ao povo russo que quer que sua voz seja ouvida”. Sullivan também pediu a soltura imediata do líder opositor. Segundo ele, “os autores do escandaloso ataque à vida de Navalny têm que prestar contas.