A união e a lealdade dentro do Partido Republicano parecem ter se estilhaçado com a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro. Dez dos 201 deputados governistas votaram a favor do impeachment do presidente Donald Trump, na quarta-feira, enquanto quatro se abstiveram. A acusação formal contra magnata por incitamento à insurreição provocou mal-estar nas fileiras do partido, fundado em 20 de março de 1854. Segundo o jornal The New York Times, um grupo ultraconservador de aliados de Trump na Câmara dos Representantes, pediu a renúncia da deputada Liz Cheney do posto de terceira liderança republicana. A demanda partiu do ultraconservador Freedom Caucus (“Caucus da Liberdade”, pela tradução livre), que acusa Liz Cheney de semear “descrédito e discórdia” interna, por destoar da maioria do partido durante a votação.
“Um desses 10 não pode ser nosso líder. Isso é insustentável, precisamos trocar a liderança”, declarou à emissora Fox News Max Gaetz, deputado republicano pela Flórida e membro do grupo. Líder da minoria republicana na Câmara, Kevin McCarthy se opôs à remoção de Cheney, o que acirrou a tensão partidária. “Não vou a lugar nenhum. Este é um voto de consciência. Existem diferentes pontos de vista em nosso partido. Mas, nosso país enfenta uma crise sem precedentes, desde a Guerra Civil, uma crise constitucional. É nisso que precisamos estar focados”, afirmou a jornalistas, antes da votação de anteontem. Ao justificar o voto pela acusação a Trump, a congressista disse que “nunca houve traição maior, por parte de um presidente dos Estados Unidos, ao seu cargo e ao seu juramento”.
Adam Kinzinger, colega de Cheney na Câmara e no partido, elogiou a congressista e assegurou que ela ganhou “respeito imensurável”. Também defendeu que os republicanos discutam sobre quais integrantes da legenda fomentaram a invasão ao Capitólio e avaliem os papéis de suas lideranças.
A fratura dentro do Partido Republicana deverá ficar mais evidente após o julgamento de Trump no Senado — a decisão da Câmara Alta dos Estados Unidos pode custar os direitos políticos do presidente. Ontem, a senadora republicana Lisa Murkowsky classificou como “apropriado” o impeachment do titular da Casa Branca e indicou que apoiará a condenação de Trump. Para ela, o incitamento à violência, a profanação do Capitólio e a resistência em garantir uma transição de poder pacífica são “ações ilegais que não podem ficar sem consequência”. A votação não deverá ocorrer antes de 20 de janeiro, data da posse do democrata Joe Biden.
Em entrevista ao Correio, Christopher McKnight Nichols —historiador da Universidade Estadual do Oregon e coautor de Rethinking American Grand Strategy (“Repensando a Grande Estratégia Americana”, pela tradução livre) — avalia ser muito complexo prever os rumos do Partido Republicano. “Há fortes incentivos no sistema político americano para preservar a coesão e não ampliar a divisão. No entanto, é claro que o governo Trump e os históricos eventos do ataque ao Capitólio fragmentaram ainda mais o partido. Trump segue como o mais importante republicano, com forte base de apoio”, afirmou. “A história das presidências dos EUA sugere que ex-presidentes perdem o poder rapidamente. Isso parece ser muito provável com Trump, especialmente na esteira dos devastadores incidentes de 6 de janeiro, que reduziram o apoio ao magnata para o nível mais baixo, pouco mais de 30%.”
Posse
A apenas cinco dias da posse do democrata, seguem os preparativos para a cerimônia, maculada pela pandemia da covid-19 e pelos incidentes no Capitólio. A segurança foi significativamente reforçada em Washington, e o Pentágono autorizou o envio de até 20 mil efetivos da Guarda Nacional. No National Mall, a imensa esplanada situada diante do Congresso, haverá um “campo de bandeiras” representando “os cidadãos americanos” que não poderão presenciar a solenidada ao vivo. Nos últimos dias, o FBI (polícia federal americana) descobriu que milícias de extrema-direita e simpatizantes de Trump preparam “protestos armados” em Washington e em 50 estados.
Lady Gaga e Jennifer Lopez cantarão na posse de Biden
As estrelas do pop Lady Gaga e Jennifer Lopez são algumas das atrações na cerimônia de posse de Joe Biden, na próxima quarta-feira, em Washington. Lady Gaga cantará o hino nacional dos Estados Unidos na escadaria do Capitólio. Depois, Lopez realizará uma performance musical, anunciou o comitê organizador da campanha. Lady Gaga, a quem o presidente eleito chama de “grande amiga”, apresentou-se no último grande comício do democrata. Quando Biden era vice-presidente de Barack Obama, eles trabalharam juntos em uma campanha contrao assédio sexual. A cerimônia de posse do 46º presidente dos Estados Unidos será diferente de qualquer outra. Em meio à pandemia da covid-19 e após a invasão ao Capitólio, os organizadores e a prefeitura pediram ao povo que não saia as ruas e que acompanha o evento por meio da televisão e da internet.