Joe Biden assume a Presidência dos Estados Unidos nesta quarta-feira (20/01), abrindo um novo capítulo em um país dividido e em crise, situação que se refletirá na transferência de comando, marcada por extrema segurança após o ataque ao Capitólio e pela ausência do predecessor, Donald Trump.
Em uma cidade sitiada e quase irreconhecível, com 25 mil agentes da Guarda Nacional e reforços policiais chegando de todo país, Biden fará o juramento às 17h GMT (14h de Brasília), em frente à ala oeste do Capitólio, em uma cerimônia sem a tradicional multidão que se aglomera na esplanada para saudar o novo presidente.
Em seu lugar, estarão milhares de bandeiras americanas para lembrar as mais de 400 mil mortes que a pandemia de coronavírus já deixou no país. Também estará acompanhado dos ex-presidentes democratas Barack Obama e Bill Clinton e pelo ex-presidente republicano George W. Bush.
Sua vice-presidente, Kamala Harris, entrará para a história como a primeira mulher a ocupar o cargo. Ela também é a primeira negra de origem indiana a ser escolhida para o posto.
A pessoa encarregada de tomar o juramento será a juíza da Suprema Corte Gloria Sotomayor, a primeira magistrada de origem latina a chegar à mais alta instância da Justiça americana.
A decisão de Trump de não participar da cerimônia de posse e de voar para a Flórida pela manhã, sem dar as boas-vindas ao novo inquilino da Casa Branca, quebra uma tradição de 150 anos.
Essa ausência mostra a tensão que o país vive, exacerbada desde que o presidente em final de mandato travou uma dura batalha para contestar os resultados das eleições de novembro, vencidas por Biden.
Na terça-feira, em sua mensagem de despedida, ele fez seu primeiro gesto conciliatório e pediu ao país que orasse pelo sucesso do novo governo.
Seu mandato foi marcado por escândalos e pela rotatividade permanente de seu gabinete. Em quatro anos, o Congresso abriu dois processos de impeachment contra ele, o último por "incitamento à insurreição" contra o Capitólio.
A tomada da sede do Congresso foi a gota d'água nas fileiras republicanas, e vários de seus líderes decidiram abandonar o presidente.
Na última noite na Casa Branca, Trump anunciou 73 indultos presidenciais, incluindo um que beneficiou seu ex-conselheiro Steve Bannon, acusado de ter desviado fundos para construir o muro na fronteira com o México.
Em um gesto de última hora, Trump anunciou um estatuto de proteção contra a deportação de venezuelanos, depois que Biden esboçou o que será uma ambiciosa reforma da imigração que precisa do aval do Congresso.
Sem a pompa usual de Washington, Trump vai se despedir em uma breve cerimônia na base militar de Andrews e, então, embarcará no avião presidencial uma última vez para se estabelecer em sua residência em Mar-a-Lago, Flórida.
Contraste
Aos 78 anos, Biden é o presidente mais velho a assumir o comando da Casa Branca. Ele o faz em sua terceira tentativa, depois de quase quatro três décadas no Senado e oito anos como vice-presidente de Barack Obama.
Ainda nesta quarta-feira, seu governo vai anunciar 17 decretos para reverter várias das políticas do governo Trump: da construção de um muro na fronteira do México aos ataques ao multilateralismo que culminaram no abandono do Acordo de Paris para o clima e sua decisão de deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS) em meio a uma pandemia.
Um marco nessa mudança é que o imunologista Anthony Fauci falará em nome dos Estados Unidos em uma reunião do Conselho Executivo da OMS na quinta-feira.
Para limitar a propagação do vírus, o presidente vai assinar um decreto para tornar obrigatório o uso de máscaras em prédios federais e para funcionários do governo central.
Restabelecer alianças
As audiências no Senado para confirmar os indicados para compor o gabinete começaram terça-feira, para preparar o caminho para a equipe lidar com as múltiplas crises que o país enfrenta.
Biden está prestes a retomar a construção de alianças tradicionais.
Há, porém, linhas marcadas por Trump que permanecerão na política externa, como o endurecimento da estratégia em relação a China, a manutenção da embaixada em Israel em Jerusalém e a decisão de continuar reconhecendo Juan Guaidó como presidente interino na Venezuela, segundo Antony Blinken, nomeado chefe da diplomacia.
No plano econômico, a eleita para chefiar o Departamento do Tesouro, Janet Yellen, pediu ao Congresso que olhe agora para os gastos e se preocupe com o déficit, dada a magnitude da crise múltipla que o país atravessa.
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