Os Estados Unidos retornam à "linha de frente" mundial, mas agora contarão com seus aliados para "vencer a competição com a China" e contra-atacar seus outros adversários. O secretário de Estado nomeado por Joe Biden, Antony Blinken, prometeu nesta terça-feira (19/01) romper com a diplomacia unilateralista e soberanista de Donald Trump.
"Podemos revitalizar nossas alianças fundamentais", dirá nesta terça Antony Blinken durante sua audiência no Senado, segundo o texto divulgado por sua equipe.
"Juntos, estamos em uma posição muito melhor para contra-atacar as ameaças semeadas por Rússia, Irã e Coreia do Norte e defender a democracia e os direitos humanos", indica o trecho antecipado.
As palavras de Blinken vão no mesmo caminho da mensagem repetida pelo presidente eleito de virar a página do governo Trump, que durante quatro anos deslocou seus aliados históricos, simpatizou com autocratas, quebrou acordos internacionais e desprezou organismos multilaterais.
Para isso, Biden voltará a colocar os Estados Unidos no Acordo de Paris sobre o clima. Também selecionou diplomatas experientes que faziam parte da gestão de Barack Obama, uma equipe pensada para retomar uma política externa mais tradicional.
"Liderança americana"
Na chefia desses diplomatas estará Blinken, um intervencionista que terá de lidar com um país que quer deixar de olhar para fora.
"A liderança americana ainda conta", dirá o secretário de Estado nomeado por Biden nesta tarde aos senadores, que decidirão nos próximos dias se ele obterá o cargo.
Blinken prometerá um retorno dos Estados Unidos à "linha de frente", mas de forma coletiva, porque "nenhum dos grandes desafios" do momento "pode ser resolvido por um país agindo sozinho".
"Guiados por esses princípios, podemos superar a crise da covid, o maior desafio compartilhado desde a Segunda Guerra Mundial".
"Podemos vencer a competição com a China", também dirá.
Descrito como "fraco" por muitos republicanos, Biden se comprometeu a ser "duro com a China".
Essa firmeza dará lugar a uma nova Guerra Fria como a que parecia se aproximar sob a liderança de Mike Pompeo, secretário de Estado de Donald Trump, ou a uma competição estratégica clara e mais pacífica, como querem os europeus?
A resposta para esta pergunta determinará "o sucesso ou o fracasso da política externa americana", afirmou antes das eleições de novembro o ex-diplomata Bill Burns, nomeado por Biden para comandar a CIA.
A dupla Biden-Blinken encara vários prazos iminentes que colocarão sua firmeza e capacidade de diálogo à prova.
O primeiro prazo será com Moscou, seu velho rival, com quem a dupla terá até 5 de fevereiro para estender o tratado-chave de desarmamento nuclear New Start.
O governo Biden, que quer deixar para trás a política de Trump de aproximação com o presidente russo, Vladimir Putin, terá de encontrar uma maneira de negociar, em meio à pressão do calendário.
"Mundo pós-americano"
Ainda mais crítico será o assunto iraniano. Biden prometeu voltar ao acordo internacional para evitar que Teerã adquira a bomba atômica, assinado em 2015 sob o governo Obama do qual era vice-presidente, e depois abandonado unilateralmente por Trump.
O novo governo terá de levantar as sanções que os republicanos endureceram até o final de seu mandato. Terá também de garantir que Teerã volte a cumprir as restrições nucleares impostas no acordo que foi sendo violado assim que Trump deixou o pacto.
O democrata também precisa provar para uma classe política americana cética que mostrará firmeza com as ações do Irã no Oriente Médio.
O papel de Blinken, seu fiel conselheiro de 58 anos, será ainda mais crucial, já que o começo do mandato de Biden estará monopolizado por crises internas, como a pandemia, a recessão econômica e as injustiças raciais.
A era Trump manchou a imagem dos Estados Unidos, principalmente nas últimas semanas com os ataques republicanos às instituições democráticas, ao negar sua derrota e, acima de tudo, após a invasão do Capitólio por parte de uma multidão incentivada pelo presidente.
"Levará muito tempo até que possamos defender o Estado de direito com credibilidade" no exterior, disse o ex-diplomata Richard Haass após o ataque ao Congresso.
O dia 6 de janeiro marcou, segundo ele, o início de um "mundo pós-americano, que não se caracteriza mais pela primazia dos Estados Unidos".
Para Thomas Wright, da Brookings Institution, consertar a democracia nos Estados Unidos "não é incompatível com defender a democracia em outros lugares".
"Os dois vão de mãos dadas", argumentou na revista The Atlantic, destacando que o trumpismo não é um fenômeno exclusivamente americano.
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