Diplomacia

Estados Unidos e Cuba iniciam novo xadrez na era Biden

Durante o governo, Donald Trump fez duras sanções a Cuba e desmontou boa parte da aproximação de Barack Obama com a ilha

Agência France-Presse
postado em 18/01/2021 12:07
 (crédito: Mark Makela / Getty Images / AFP)
(crédito: Mark Makela / Getty Images / AFP)

Após quatro anos de duras sanções do governo de Donald Trump, a relação entre Cuba e Estados Unidos está no ponto mais baixo em décadas, e seu sucessor, Joe Biden, tomará a iniciativa para reconstruí-la, estimam especialistas.

A tarefa não será fácil, depois que Trump ditou mais de 190 medidas que reforçaram o embargo vigente desde 1962 para limites que antes eram impensáveis, desmontando boa parte da aproximação de Barack Obama com a ilha, e gerando um maior rigor cotidiano para os cubanos em meio à pandemia da covid-19.

Para selar as tensões, 10 dias antes de deixar a Casa Branca Trump colocou mais uma vez Cuba na lista de promotores do terrorismo, de onde Obama a havia removido, e depois sancionou o ministro do Interior.

Durante sua campanha, Biden prometeu a Cuba reverter as restrições de Trump às viagens e à transferência de dinheiro que os cubanos no exterior mandam para seus familiares na ilha.

"Iniciativa calibrada"

Para Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade Internacional da Flórida, Biden poderia "reverter a recente decisão de restabelecer Cuba na lista de estados promotores do terrorismo e eliminar as restrições aos voos e remessas".

Em médio prazo, poderia nomear um embaixador, "supondo que o Congresso, agora controlado pelos democratas, aprove", disse o acadêmico à AFP.

O especialista destacou que o esforço para "normalizar" as relações requer uma "iniciativa calibrada de ambas as partes".

Nesse sentido, o "governo de Cuba poderia avançar em implantar reformas econômicas que permitam uma maior participação do setor privado" e "maior diversidade de opiniões políticas", segundo Duany.

Havana espera que seja Biden a reiniciar a aproximação. Cauteloso, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, ofereceu sua disposição ao diálogo aberto, mas sem condições.

"Estamos dispostos a discutir sobre qualquer assunto. O que não estamos dispostos a negociar e que não cederemos nem uma gota é a revolução, o socialismo e nossa soberania", afirmou o presidente em 17 de dezembro, no sexto aniversário do início da aproximação entre Obama e o então presidente cubano, Raúl Castro.

Michael Shifter, presidente do centro de análise política Diálogo Inter-americano, descarta uma iniciativa de Havana.

"Me surpreenderia se Havana tomasse tal iniciativa, mesmo que sua disposição para relaxar as tensões entre ambos os países esteja clara", disse à AFP.

"Compromisso político positivo"

Ao mesmo tempo em que Díaz-Canel se pronunciava em Havana, dois centros de análise e assessoria sobre política externa publicaram em Washington o relatório "Estados Unidos e Cuba: uma nova política de compromisso", em referência ao que ficou conhecido como "positive engagement" (compromisso positivo), instaurado por Obama e eliminado por Trump.

O Escritório para Assuntos da América Latino-americanos de Washington (WOLA) e o Centro para a Democracia nas Américas (CDA) sugeriram um caminho para a equipe de Biden, que tem entre seus integrantes o cubano Alejandro Mayorkas como próximo secretário da Segurança Interna.

Cuba "está mudando" - diz o relatório - e "Estados Unidos pode ter uma influência positiva na trajetória da mudança, mas apenas se comprometendo, criando laços".

Em 20 de janeiro, o tabuleiro estará pronto e os relógios parados: todos esperam que Biden faça a primeira jogada para começar a apagar a era Trump. Haverá o tradicional aperto de mãos?

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