Ao menos 47 pessoas morreram nesta segunda-feira (18/01) em confrontos entre tribos no estado de Darfur Sul, oeste do Sudão - informou Mohamed Saleh, chefe da tribo Fallata.
Várias casas foram incendiadas durante os confrontos, relatou Saleh à AFP.
Além disso, nas últimas 48 horas, mais de 80 pessoas morreram nos confrontos entre tribos no estado de Darfur Ocidental, outro estado da grande região sudanesa de Darfur.
"O número de mortos por causa dos sangrentos eventos que ocorreram em El Geneina, capital de Darfur Ocidental, aumentou desde sábado de manhã, alcançando 83 mortos e 160 feridos, entre eles membros das Forças Armadas", tuitou no domingo (17/01) o Comitê Central de Médicos do Sudão, próximo ao movimento de protesto que derrubou o presidente Omar al-Bashir no ano passado.
Esses confrontos também foram os mais mortais após o fim da missão de paz conjunta entre a ONU e a União Africana (UA) em Darfur, em 31 de dezembro. Sua retirada gerou preocupações de uma escalada da violência entre os habitantes desta grande região.
Esses embates são caracterizados pela oposição entre a tribo Al-Massalit com os nômades árabes. Segundo testemunhas, milícias armadas favoráveis aos nômades atacaram El Geneina, e várias casas foram incendiadas.
O primeiro-ministro Abdallah Hamdok enviou uma delegação de "alto escalão" para Darfur Ocidental para monitorar a evolução da situação, disse a agência de notícias SUNA.
Darfur registra um crescimento dos confrontos tribais. Do final de dezembro, poucos dias antes do encerramento da missão conjunta da ONU e da União Africana, até o último sábado, o saldo da violência chega a 15 mortos e dezenas de feridos.
A retirada progressiva de tropas desta missão, que está prevista para começar ainda em janeiro de 2021, será realizada ao longo de seis meses. Com isso, o governo sudanês assume a responsabilidade de proteger as populações desta região.
Disputa por terra e água
O conflito que começou em 2003 entre forças leais ao governo central de Cartum e milícias insurgentes deixou cerca de 300 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados, especialmente nos primeiros anos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Para combater os insurgentes, o governo central enviou os yanyauid ("homens armados a cavalo"), uma milícia de nômades árabes, acusados de fazerem uma "limpeza étnica" e de cometerem estupros.
Apesar de a violência ter diminuído em intensidade, os confrontos são bastante frequentes, tanto pelo acesso à terra quanto à água, entre pastores árabes nômades e camponeses de Darfur.
O governo de transição - instalado em Cartum após a queda do presidente Omar al-Bashir - assinou em outubro um acordo de paz com vários grupos rebeldes, alguns deles de Darfur.
Após a UNAMID, que contava com cerca de 16 mil soldados, a ONU permanecerá no Sudão com uma missão própria enviada para apoiar a transição no país (Minuats).
Esta missão política terá como tarefa acompanhar o governo de transição, lançado em agosto de 2019 e fruto de um acordo entre militares e líderes do movimento de protesto da sociedade. Também deverá contribuir para aplicar os recentes acordos de paz em áreas devastadas pelos conflitos.
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