A Índia planeja começar no sábado (16) a vacinar 1,3 bilhão de pessoas, uma tarefa colossal que enfrenta desafios de segurança, infraestrutura incerta e ceticismo da população.
O segundo país mais populoso do mundo busca imunizar 300 milhões de pessoas - quase o equivalente à população dos Estados Unidos - até julho, como parte de uma das maiores campanhas de vacinação do planeta.
Depois dos Estados Unidos, a Índia é o segundo país mais afetado pelo coronavírus. São mais de 10 milhões de casos confirmados, embora a taxa de mortalidade seja uma das mais baixas do mundo. "Mal posso esperar para ser vacinado e viver sem medo e sem máscara o tempo todo. O ano passado foi muito difícil", disse à AFP Shatrughan Sharma, um trabalhador de 43 anos de Nova Délhi.
Os 30 milhões de profissionais da saúde e os mais expostos à doença serão os primeiros a serem vacinados, seguidos das pessoas com mais de 50 anos, ou em risco. O governo autorizou o uso de duas vacinas que requerem armazenamento refrigerado ininterrupto: Covishield, da AstraZeneca e da Universidade de Oxford; e Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech.
Para garantir a refrigeração, serão mobilizados 29 mil pontos de armazenamento com temperatura controlada, quase 300 câmaras frigoríficas, 45 mil frigoríficos, 41 mil freezers e 300 frigoríficos que utilizam energia solar.
O maior fabricante mundial de vacinas, o Serum Institute of India (SII), afirmou já ter produzido 50 milhões de doses da vacina AstraZeneca e planeja acelerar sua produção para chegar a 100 milhões mensais até março.
Embora a Índia tenha realizado um ensaio geral nacional para se preparar para a campanha e treinado 150.000 pessoas, a operação representa um desafio colossal neste país vasto e pobre, com uma rede rodoviária de baixa qualidade e um dos sistemas de saúde mais sucateados do mundo.
As autoridades afirmam que vão aproveitar sua experiência na organização de eleições e nas campanhas de vacinação contra a poliomielite e a tuberculose.
Essas campanhas representam, contudo, "um exercício de menor alcance", lembra Satyajit Rath, do Instituto Nacional de Imunologia, especialmente quando a vacinação contra a covid-19 é anunciada como "muito exigente".
Desafios no terreno
Embora a Índia tenha quatro grandes armazéns para receber vacinas e transportá-las para os diferentes centros de distribuição em veículos com temperatura controlada, a última etapa parece ser a mais complexa.
Durante um recente ensaio na região rural do estado de Uttar Pradesh (norte), onde as temperaturas chegam a 40°C no verão, um profissional da saúde foi observado transportando caixas de vacinas falsas de bicicleta.
A preocupação também paira sobre a instabilidade e a confiabilidade das redes de comunicação. O governo busca gerenciar o processo digitalmente, principalmente por meio do aplicativo governamental CoWIN, do qual já existem cópias ilegais.
Mais de 150.000 pessoas morreram de covid-19 na Índia, cuja economia é uma das mais afetadas do mundo e onde milhões de pessoas não têm meios de sobreviver. Além disso, como acontece em outros países, a chegada da vacina enfrenta um certo ceticismo alimentado por notícias falsas nas redes sociais.
A "aprovação limitada" da Covaxin, juntamente com a falha do Bharat Biotech em fornecer dados sobre os testes de fase 3, alimenta a desconfiança.
O projeto do SII de distribuição da vacina AstraZeneca a indivíduos e empresas por um valor de 1.000 rúpias (14 dólares) levanta preocupações sobre o aumento das desigualdades. "Haverá uma longa espera para os pobres como eu. Os ricos serão os primeiros a serem vacinados", desabafou Suresh Paswan, motorista de riquixá na província de Bihar.
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