Análise

Violência na Venezuela foi 'mais letal' que a pandemia, segundo ONG

Em 2020, foram registradas 11.891 mortes violentas, 45,6 por 100 mil habitantes, afirmou o OVV em seu relatório anual apresentado nesta terça-feira

Com quase 12 mil mortes, a violência na Venezuela foi "mais letal" do que a pandemia da covid-19, segundo o Observatório Venezuelano da Violência (OVV), referência no país pela falta de dados oficiais sobre a criminalidade.

Em 2020, foram registradas 11.891 mortes violentas, 45,6 por 100 mil habitantes, afirmou o OVV em seu relatório anual apresentado nesta terça-feira (29).

O número representa uma redução em relação a 2019, mas ainda é muito superior à média global e regional. A queda se deveu sobretudo à pandemia.

A violência também "foi 11 vezes mais letal do que a epidemia" do coronavírus, segundo Roberto Briceño-León, presidente do OVV, citando uma estatística de 4 mortos pela covid-19 por 100 mil habitantes no país.

O governo venezuelano reportou 1.018 mortes pelo vírus na segunda-feira.

Do total de óbitos, 4.231 (35,5%) das mortes ocorreram nas mãos da polícia, no que se classifica como "resistência à autoridade", destacando-se os homicídios, que fecharam em 4.153 e as chamadas "mortes em investigação", 3.507.

"A epidemia de violência policial continua no país" e "se espalhou", afirmou Brinceño-León. "Em 18 municípios do país não houve homicídio cometido por criminosos, mas houve vítimas de violência policial".

Metade das mortes foi cometida pelo órgão de investigação criminal (CICPC) e pela Polícia Nacional, por meio da temida Força de Ações Especiais (FAES), da qual o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelín Bachea, solicitada a dissolução após reclamações de milhares de execuções extrajudiciais.

Brinceño-León destacou que embora na Venezuela "haja menos criminosos porque emigraram" em meio a um êxodo devido à crise econômica, "não é possível subestimar o impacto que o processo de extermínio aplicou pelas ações extrajudiciais" das forças de ordem.

Entre os mortos pelas autoridades em 2020, ressaltou Briceño-León, estão 82 adolescentes entre 12 e 17 anos e duas crianças.

O OVV destacou o aumento do uso de facas, devido ao alto custo das armas de fogo e munições, e o aumento da violência doméstica.

Da mesma forma, registrou ao menos 1.150 suicídios no ano: três por dia, 22 por semana.