O editor do "The Kansas City Star" se desculpou na segunda-feira (21/12), em nome do jornal americano, por décadas de cobertura racista e discriminatória contra a minoria negra.
O assassinato do afro-americano George Floyd em maio passado, pela polícia, que gerou protestos nos Estados Unidos, obrigou o jornal a revisar sua cobertura histórica, disse o editor-chefe Mike Fannin à rede CNN.
"Nunca tínhamos nos colocado sob o microscópio para entender melhor a cobertura que o Star fez da comunidade negra durante anos", reconheceu.
No domingo, Fannin publicou um longo editorial, no qual classificou a história desse influente jornal do Meio-Oeste americano de "a história de uma poderosa empresa local que errou".
O pedido de desculpas pela publicação, onde o lendário autor americano Ernest Hemingway já atuou como um jovem repórter, chega no momento em que os Estados Unidos tomam mais consciência de sua história de escravidão, segregação e racismo sistêmico, após massivos protestos antirracistas.
"Durante 140 anos, (o jornal) tem sido uma das forças mais influentes na configuração de Kansas City e a região", escreveu ele.
"E, no entanto, durante grande parte de sua história inicial, por meio de seus pecados tanto por comissão quanto por omissão, privou de direitos, ignorou e desprezou gerações de cidadãos negros do Kansas", completou.
O jornal, cujos leitores são em sua maioria brancos, publicou uma série de reportagens investigativas no domingo, mostrando como sua cobertura durante anos ignorou a comunidade negra da região - salvo quando seus membros foram acusados de atividade criminosa.
Em um exemplo, foi necessária a morte da lenda afro-americana do jazz Charlie Parker em 1955 para que o jornal escrevesse sobre um dos filhos nativos mais famosos da cidade. Ainda assim, ele recebeu quatro parágrafos nas páginas do obituário, com a grafia errada de seu nome, "Charley", assim como a idade.
Em 1977, o Star também se concentrou nos danos causados pelas enchentes a empresas brancas, em vez dos 25 mortos deixados pelo desastre, incluindo oito afro-americanos.
Essa discriminação resultou na "falta de confiança e de credibilidade nessa comunidade, e isso é devastador", disse Fannin à CNN.
"Certamente não somos perfeitos agora (...) ainda temos muito trabalho a fazer, mas isso é pelo menos um começo", completou.