Natal e réveillon dentro de casa

Reino Unido e Itália anunciam endurecimento das medidas de isolamento e impõem regras para a realização das festas de fim de ano. Variante do Sars-CoV-2, detectada no sudeste da Inglaterra, elevou o nível de alerta para quatro, o mais alto


Com o avanço da segunda onda da covid-19 na Europa, Itália e Inglaterra voltam a ter restrições rigorosas, com o anúncio de reconfinamento nos dois países. Na semana passada, País de Gales, Irlanda do Norte, Escócia, Áustria, Alemanha e Suíça também retomaram as exigências mais severas de isolamento social, devido à alta de casos e o medo de que as festas de fim de ano elevem ainda mais os contágios.

O reconfinamento de Londres e do sudeste da Inglaterra estão sob um novo nível de alerta, o quarto e mais alto. O endurecimento das restrições é uma tentativa de conter a epidemia, depois que foi identificada uma nova cepa do Sars-CoV-2, aparentemente mais infectante e que estaria associada a um rápido aumento de casos na região. Sem citar a fonte científica da informação, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse, em uma coletiva de imprensa, que a nova versão poderia ser 70% mais virulenta. “Nada indica que seja mais mortal ou que cause uma forma mais grave da doença, ou que reduza a eficácia das vacinas”, ressaltou.

O Reino Unido é a região da Europa mais castigada pela pandemia, junto com a Itália, com mais de 67 mil mortes. Ontem, superou os 2 milhões de casos. No total, cerca de 38 milhões de pessoas na Inglaterra — ou seja, 68% da população — já estavam sujeitam a rígidas medidas restritivas, como o fechamento de pubs, restaurantes e museus, e submetidas a uma proibição de se reunir com pessoas fora do convívio diário, salvo em algumas exceções.

Agora, no sudeste e na capital, também não poderão sair de casa. Comércio considerado não essencial não poderá abrir: ontem foi o último dia para as compras de Natal.

Sacrifício

Nas zonas em alerta máximo, estão proibidas reuniões entre membros de diferentes agregados familiares e, nas demais, terão de ser realizadas num único dia. “É com grande pesar que devo dizer que não podemos deixar o Natal se desenrolar como planejado”, disse Johnson, garantindo que “não tinha escolha” e pedindo aos britânicos que “sacrifiquem uma oportunidade de ver seus entes queridos neste Natal para protegê-los melhor e, assim, poder vê-los nas próximas festas natalinas”.

Na Itália, um decreto oficial, publicado ontem, transformou o país inteiro em uma zona vermelha, ou seja, com um nível de confinamento mais restrito durante as festas de Natal e ano-novo. Nas duas ocasiões, foi autorizado um deslocamento por dia dentro da própria região. Cada família poderá convidar até duas pessoas para a ceia em casa, acompanhados ou não por seus filhos, se eles tiverem menos de 14 anos.

A Itália registrou, até ontem, mais de 67 mil mortes e quase 2 milhões de contágios pelo novo coronavírus. O país tem uma taxa de mortalidade de 112 óbitos para cada 100 mil habitantes, a segunda maior do mundo, superada apenas pela Bélgica, segundo o último balanço da agência France-Presse, com base em dados oficiais. A população de 60 milhões é a mais envelhecida do continente europeu.

Comércio

Durante o confinamento, o comércio, os bares e os restaurantes permanecerão fechados e poderão preparar pratos apenas para delivery, um balde de água fria para o setor, que contava abrir suas portas durante as festas. Como compensação, receberam novas ajudas financeiras de 645 milhões de euros. Apenas farmácias, cabeleireiros, supermercados, quitandas, bancas de jornais e as celebrações religiosas tiveram autorização para funcionar até as 22h.

O confinamento será aliviado em 28, 29 e 30 de dezembro, assim como em 4 de janeiro. Nesses dias, os comércios estarão abertos até as 21h e não será necessário justificar os deslocamentos dentro da cidade onde se vive. A partir de amanhã, estará proibido viajar de uma região à outra, exceto por razões de saúde ou de trabalho, especificadas no decreto.

Na França, o presidente Emmanuel Macron, que anunciou ter testado positivo para covid-19, mantinha-se estável, segundo um comunicado divulgado ontem. “(O presidente) continua apresentando os mesmos sintomas da doença (cansaço, tosse, dores musculares), o que não o impede de cumprir suas funções”, diz a nota. Na contramão dos demais países europeus, Macron relaxou o bloqueio que vigorava desde o fim de outubro. Mas haverá toque de recolher no país, a partir da véspera do ano-novo, das 20h às 6h, previsto até 10 de janeiro.

Netanyahu imunizado

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, recebeu, ontem, a vacina da Pfizer/BioNTech contra o coronavírus, dando início à campanha nacional de vacinação no país. Netanyahu, 71 anos, foi vacinado no Hospital Sheba, situado em Ramat Gan, perto de Tel Aviv, diante das câmeras de televisão que transmitiam o evento ao vivo. “Pedi para ser vacinado primeiro, junto do ministro da Saúde, Yuli Edelstein, para dar o exemplo e os encorajar a serem vacinados”, disse o premiê aos israelenses. Mais de 370 mil pessoas testaram positivo para o Sars-CoV-2 no país desde o primeiro caso, em fevereiro.

Mais uma vacina nos EUA


A vacina do laboratório americano Moderna contra a covid-19 começou a ser distribuída, ontem, nos Estados Unidos. A agência FDA anunciou a autorização de emergência para o imunizante na noite de sexta-feira, uma semana após fazer o mesmo com a substância da dupla americana-alemã Pfizer/BioNTech.

As primeiras doses saíram de Bloomington, no estado de Indiana, onde fica o centro de embalagem que a Moderna terceirizou para a empresa Catalent. O general Gus Perna, chefe da Operação Warp Speed do governo dos Estados Unidos para garantir a entrega da substância, afirmou que a FedEx e a UPS começarão a embarcar o imunizante para seus destinos hoje.

A vacina da Moderna pode ser armazenada a -20°C, enquanto a da Pfizer/BioNTech deve ser congelada a -70°C, o que dificulta o transporte desta última. Perna observou que as condições de armazenamento menos rigorosas para o imunizador norte-americano permitem maior flexibilidade para atender às necessidades das áreas rurais e de acesso mais difícil.

Desde que o FDA concedeu autorização de emergência à Pfizer/BioNTech, há uma semana, para distribuir sua vacina, 2,9 milhões de doses foram entregues, disse o general. Perna indicou que o governo espera entregar 20 milhões de doses até o fim do ano, embora esse número só possa ser alcançado na primeira semana de janeiro.

Na sexta-feira, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, 78 anos, anunciou que receberá a vacina da Pfizer amanhã, em Delaware. A futura vice-presidente, Kamala Harris, irá se vacinar na semana seguinte. O atual vice-presidente, Mike Pence, que vem coordenando a luta contra a pandemia na Casa Branca nos últimos meses, recebeu o imunizante há dois dias, em um evento transmitido ao vivo pela tevê. “Construir a confiança na vacina é o que nos traz aqui nesta manhã”, declarou.

Suíça

Ontem, a Suíça tornou-se o primeiro país da Europa continental a aprovar a vacina da Pfizer. Com isso, mais de 15 nações no mundo já deram sinal verde para a distribuição desse imunizante; entre eles, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, México, Costa Rica, Equador, Arábia Saudita e Singapura. Na União Europeia (UE), a vacinação começará em 27 de dezembro, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A Agência Europeia de Medicamentos examinará amanhã a vacina da Pfizer/BioNTech, que deve ser autorizada dois dias depois pela Comissão. A análise da substância da Moderna acontecerá em 6 de janeiro, uma semana antes do previsto.