Uma sonda da China retornou nesta quinta-feira (17/12) à Terra com amostras da Lua, na primeira missão deste tipo em mais de 40 anos, uma verdadeira façanha tecnológica no espaço.
O módulo de retorno da sonda espacial Chang'e-5 pousou durante a noite na região da Mongólia Interior (norte), informou a Agência Espacial Chinesa (CNSA) em um comunicado.
A análise das amostras ajudará na compreensão da história lunar. A missão também permite aperfeiçoar as tecnologias necessárias para astronautas chineses à Lua, algo que Pequim pretende fazer em 2030.
O canal público CCTV exibiu imagens do pouso do módulo, com a ajuda de um paraquedas, em uma área com neve.
Cientistas recolheram o módulo e colocaram uma bandeira da China próxima do aparelho.
Com a missão, a China se tornou o terceiro país a recolher rochas da Lua, depois dos Estados Unidos e da ex-União Soviética nas décadas de 1960 e 1970.
O presidente Xi Jinping transmitiu "cordiais felicitações" aos que trabalharam na missão, segundo a agência estatal Xinhua.
"A conquista brilhante de vocês ficará para sempre gravada na memória de nossa pátria e de nosso povo", disse.
Uma operação delicada
A última tentativa de retornar para a Terra com amostras da Lua havia sido executada com sucesso pela URSS em 1976, com a missão Luna 24.
Estados Unidos também coletaram rochas durante a missão tripulada Apolo 17 (1972), mas foram coletadas diretamente pelos astronautas, o que exigiu menos manipulações remotas.
"É uma façanha tecnológica que permitirá a Pequim confiar mais em sua tecnologia", declarou à AFP Chen Lan, analista do site GoTaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês.
"Uma missão tão complexa ainda é, sem nenhuma dúvida, muito difícil de alcançar hoje em dia, inclusive para Estados Unidos, Rússia e as demais potências espaciais", destaca.
Chang'e 5, que recebeu o nome em homenagem a uma deusa da Lua na mitologia chinesa, foi lançada em 24 de novembro da ilha tropical de Hainan (sul da China).
O módulo pousou na Lua no dia 1 de dezembro, perto de Mons Rümker, em uma zona montanhosa nunca antes explorada. A missão consistia em recolher dois quilos de material.
Depois de recolher as amostras, o módulo de pouso da sonda teve que ascender automaticamente à órbita lunar, acoplar-se ao orbitador e transferir a carga ao módulo de retorno. Todas estas operações eram complexas porque eram dirigidas por controle remoto a partir da Terra
"Maturidade"
"Isto nunca havia sido feito até agora, por ninguém", destacou Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.
"O fato de que tudo transcorreu sem problemas é um sinal de maturidade do programa espacial chinês", declarou à AFP.
O subdiretor da CNSA, Wu Yanhua, disse que as amostras serão utilizadas principalmente para que os cientistas consigam ampliar os conhecimentos sobre as origens da Lua e a atividade vulcânica.
Algumas rochas também serão exibidas em um museu de Pequim e outra ficará armazenada em Shaoshan (centro), a cidade natal do fundador do regime comunista Mao Tsé- Tung, informou Wu.
A ONU também deseja receber algumas amostras, segundo o subdiretor da CNSA.
Também afirmou que está "aberto a uma cooperação sincera e amistosa com os Estados Unidos" sobre as rochas lunares, ao mesmo tempo que recordou que Washington proíbe teoricamente que sua agência espacial (Nasa) colabore com a China.
A China investe bilhões de dólares em seu programa espacial para igualar o nível da Europa, Rússia e Estados Unidos.
No início de 2019 o país conseguiu alunissar uma sonda e um pequeno robô teleguiado no lado oculto da Lua, algo inédito entre todas as agências espaciais.
A China enviou o primeiro astronauta ao espaço em 2003.
O gigante asiático concluiu em junho a rede de seu sistema de navegação Beidou, rival do GPS americano.
No verão passado lançou uma sonda com destino à Marte, onde espera pousar um pequeno robô teleguiado em 2021. Também pretende criar uma grande estação espacial até 2022.