Os Estados Unidos começaram a imunizar a população contra a covid-19, ontem, mesmo dia em que o país ultrapassou a marca de 300 mil mortes provocadas pela doença, segundo levantamento da universidade americana Johns Hopkins. A enfermeira intensivista Sandra Lindsay, de Nova York, foi a primeira americana a receber a dose da vacina da Pfizer/BioNTech no início de uma campanha que planeja atingir, até o fim do ano, 20 milhões de pessoas. De forma mais tímida, o Canadá também iniciou a vacinação.
O início do processo, dois dias após o sinal verde da FDA (a agência federal de saúde dos EUA), foi celebrado pelo presidente em fim de mandato, o republicano Donald Trump, e seu sucessor, o democrata Joe Biden. “A primeira vacina foi aplicada. Parabéns aos Estados Unidos! Parabéns a todo o MUNDO!”, tuituou Trump. “Fique esperançoso — dias melhores estão por vir”, postou Biden na mesma rede social.
Na linha de frente do combate ao novo coronavírus, a enfermeira Sandra Lindsay recebeu a vacina. diante das câmeras, no Long Island Jewish Hospital, um grande centro localizado no bairro de Queens. Após a injeção, ela afirmou com um sorriso que estava “bem e aliviada”, assinalando que a sensação era semelhante à de qualquer outra vacina. “Espero que este seja o começo do fim desse momento tão difícil que estamos vivendo”, ressaltou.
Yves Duroseau, 49 anos, diretor de Emergência do Hospital Lenox Hill, em Nova York, foi o primeiro médico e o segundo cidadão dos EUA a receber a vacina. “Era importante que um médico se tornasse modelo para a imunização, a fim de mostrar que a vacina é segura. Também sou negro, haitiano-americano. Era importante ser o ‘rosto’ de comunidades que foram desproporcionalmente impactadas pela covid-19, para que não temam a vacinação”, disse ao Correio. “É o começo da erradicação em potencial do vírus.”
Iniciada seis dias após a campanha do Reino Unido, a vacinação nos EUA vai priorizar os profissionais de saúde mais expostos ao vírus e os asilos. Cerca de 3 milhões de doses devem ser distribuídas até amanhã, com o objetivo de imunizar 100 milhões até o fim de março de 2021.
A urgência é cada vez maior: as infecções dispararam, com 1,1 milhão de novos casos confirmados nos últimos cinco dias nos EUA, o país mais atingido pela doença em todo o mundo. “É a luz no fim do túnel, mas é um longo túnel”, alertou o governador de Nova York, Andrew Cuomo, lembrando que levará meses até que uma massa crítica da população americana seja imunizada.
Um dos desafios das autoridades é minar a resistência à vacinação. “Minha principal preocupação é o nível de relutância”, afirmou Moncef Slaoui, responsável pela imunização em nível federal, à rede de tevê CBS. As autoridades lançaram uma poderosa campanha de comunicação para convencer os americanos a se vacinar.
O imunologista Anthony Fauci alertou que, apesar da vacinação, a população deve continuar a usar máscaras e respeitar o distanciamento social. “Se convencermos as pessoas a se vacinarem (...) e conseguirmos (imunidade de rebanho) no fim da primavera (boreal), início do verão, então, no outono, podemos ter certo grau de alívio (...) e alguma forma de normalidade”, disse Fauci no MSNBC.
Mobillização
Na corrida contra a covid-19, Abu Dhabi também iniciou sua campanha, cinco dias depois que os Emirados Árabes Unidos aprovaram a vacina do gigante chinês Sinopharm. Na Ásia, Cingapura entrou na lista de países que aprovaram o imunizante Pfizer/BioNTech, ontem, segindo o mesmo caminho do Reino Unido, do Canadá, do Bahrein, da Arábia Saudita, do México e dos EUA.
Na Europa, continente mais afetado, com 480.650 mortes e mais de 22 milhões de casos, a Agência Europeia de Medicamentos deve dar o seu parecer antes da virada de ano. Assim como nos EUA, a inquietação aumenta em toda a região diante da proximidade das comemorações do ano-novo. A segunda onda se acelera, especialmente na Alemanha e na Itália.
De acordo com a agência de notícias France-Presse, a Europa registrou o maior número de novos casos da doença na última semana, com uma média diária de 236,7 mil infecções. A França deflagrou, ontem, uma estratégia de testes em massa em algumas áreas urbanas na esperança de controlar a disseminação do vírus, que deixou, até o momento, mais de 57,9 mil mortos e mais de 2,3 milhões de casos no país. Tudo para tentar sair do confinamento.
Na Alemanha, onde a pandemia “está fora de controle”, segundo o dirigente da Baviera, Markys Söder, um confinamento parcial começa a vigorar amanhã. Até 10 de janeiro, serviços não essenciais e escolas não vão funcionar. O país tem mais de 13 milhões de casos.