O magnata da imprensa de Hong Kong e grande crítico de Pequim Jimmy Lai foi indiciado nesta sexta-feira (11/12) com base na lei de segurança nacional, acusado de conluio com forças estrangeiras, e se tornou a personalidade mais famosa do território a virar alvo da legislação severa.
Já preso por acusações de "fraude", Lai, 73 anos, desta vez foi acusado de ter violado a drástica lei de segurança nacional, imposta no final de junho por Pequim e que pretende acabar com as gigantescas manifestações pró-democracia que abalaram o território semiautônomo no ano passado.
"Após uma investigação exaustiva do Departamento de Polícia Nacional, um homem de 73 anos foi acusado de conluio com um país estrangeiro, ou com elementos externos para colocar em perigo a segurança nacional", anunciou a polícia em um comunicado.
Os acusados por esta lei podem ser condenados à prisão perpétua.
Proprietário do jornal Apple Daily, conhecido por seu compromisso com a democracia e as fortes críticas ao Executivo de Hong Kong (alinhado com Pequim), Lai deve comparecer no sábado a um tribunal por violar a lei, segundo a polícia.
Centenas de policiais participaram em agosto de uma operação de busca no Apple Daily, em particular na redação.
Vários diretores do grupo de imprensa, incluindo Lai, foram detidos por suspeitas de "conluio com forças estrangeiras", com base na lei sobre segurança nacional.
Na semana passada, ele teve a detenção preventiva decretada após uma investigação por fraude.
Lai apresentará na terça-feira, ao Supremo Tribunal, um pedido de libertação sob fiança por esta acusação.
O reforço do controle da China sobre a ex-colônia britânica acelerou desde a entrada em vigor da lei em junho.
Lai é a quarta pessoa acusada de violar esta lei.
Entre eles estão um ativista de 19 anos, acusado de promover a secessão, um homem que tentou atropelar com sua moto um policial durante um protesto e um homem que gritou palavras de ordem pró-democracia na direção de policiais.
Um "traidor"
Depois da detenção de Lai em agosto, o jornal Apple Daily publicou, no dia seguinte, a manchete "Apple vai continuar lutando".
Poucos cidadãos de Hong Kong provocam tanta ira em Pequim como o empresário, que os meios de comunicação estatais chineses consideram um "traidor" e apontam como o instigador dos protestos de 2019.
Durante muito tempo, ele teve medo de que as autoridades o obrigassem a fechar o jornal, que prometeu transformar em um meio para expressar a oposição a Pequim.
Lai chegou clandestinamente a Hong Kong com sua família, aos 12 anos, a bordo de um barco procedente de Cantão. Trabalhou em uma fábrica, aprendeu inglês e abriu o próprio negócio têxtil.
Após a repressão dos protestos de Tiananmen (Praça da Paz Celestial), em 1989, que segundo ele transformou sua visão política, ele fundou a Next Media em 1990.
"Sou um agitador", confessou à AFP em junho. "Cheguei aqui sem nada, as liberdades deste lugar me deram tudo. Era hora de retribuir o favor e lutar pelas liberdades".
"Estou preparado para a prisão", declarou, acrescentando que a lei de segurança "significaria o fim para Hong Kong".