O Marrocos tornou-se, ontem, o quarto país árabe a firmar acordo para o restabelecimento de relações diplomáticas com Israel. O entendimento foi intermediado pelo presidente dos Estados Unidos em fim de mandato, Donald Trump, que, para alcançá-lo, aceitará a soberania de Rabat sobre a região do Saara Ocidental. Nos últimos três meses, o chefe da Casa Branca obteve êxito na aproximação do Estado hebreu também com Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão. O movimento islamita palestino Hamas condenou o pacto.
“Hoje, houve outro avanço HISTÓRICO! Nossos dois grandes amigos Israel e o reino de Marrocos concordaram em ter relações diplomáticas plenas, uma conquista maior para a paz no Oriente Médio!”, comemorou o presidente norte-americano no Twitter.
Em seguida, Marrocos e Israel confirmaram o resgate dos vínculos. Rabat assinalou que a retomada do relacionamento se dará “o mais rápido possível” e descreveu como “uma tomada de posição histórica” a decisão de Washington de reconhecer a soberania marroquina sobre o disputado território do Saara Ocidental. Em comunicado de imprensa, foi informado que o rei Mohammed VI conversou, por telefone, com o chefe da Casa Branca.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por sua vez, anunciou aos seus cidadãos que, em breve, haverá voos diretos entre os dois países. Em pronunciamento transmitido pela televisão, Netanyahu agradeceu ao rei marroquino por uma “relação calorosa” bilateral. Marrocos e Israel estabeleceram escritórios de representação em Rabat e Tel Aviv nos anos 1990, mas foram fechados na década de 2000.
A exemplo do que ocorreu nos três primeiros acordos, o movimento islâmico palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza, condenou firmemente o entendimento entre Marrocos e Israel. “É um pecado político que não serve à causa palestina e encoraja a ocupação (nome dado pelas autoridades palestinas a Israel) a continuar negando os direitos de nosso povo”, disse o porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, à agência de notícias France-Presse.
Bahrein e Emirados Árabes Unidos concordaram, nos últimos meses, em normalizar suas relações com Israel, em acordos impulsionados e mediados por Jared Kushner, genro e assessor de Donald Trump. O Sudão também concordou em estabelecer as relações e, segundo Kushner, o reconhecimento e a normalização dos vínculos entre Arábia Saudita e Israel é inexorável. “A aproximação e a completa normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita é, agora, algo inevitável, mas o prazo (...) ainda é algo que deve ser instrumentado”, disse.
Disputa
O assunto da normalização das relações entre o reino árabe e Israel foi retomado em fevereiro passado, durante uma visita oficial ao Marrocos do chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo. Naquele momento, a imprensa israelense disse que Rabat estaria disposto a fazer um gesto em troca do apoio americano à sua postura sobre o Saara Ocidental.
O estatuto da disputada região desértica de 266 mil km2, ex-colônia espanhola, segue sem definição desde 1975. O grupo pró-independência Frente Polisário reivindica a soberania do Marrocos sobre o território.
“A proposta séria, confiável e realista do Marrocos para a autonomia é a única base para uma solução justa e duradoura que garanta a paz e a prosperidade!”, disse, ontem, o presidente dos EUA. “Marrocos reconheceu os Estados Unidos em 1777. Portanto, é adequado que reconheçamos sua soberania sobre o Saara Ocidental”, acrescentou.
A questão é delicada. A Organização das Nações Unidas (ONU) disse que sua posição “não mudou” na disputada região do Saara Ocidental depois que os EUA reconheceram a soberania do Marrocos. Segundo o secretário-geral António Guterres, “a solução para a questão ainda pode ser encontrada com base nas resoluções do Conselho de Segurança”. O porta-voz de Guterres descreveu a posição como “inalterada”.
A ONU envia uma missão de paz denominada Minurso à região para monitorar um cessar-fogo e supostamente organizar um referendo sobre o status do território.