Mais de 2,3 milhões de pessoas de seis países foram vacinadas em 2020 com doses de imunizantes aprovados para uso emergencial ou definitivo. Esse total é equivalente ao tamanho da população da cidade de Manaus, por exemplo.
O monitoramento é feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pode ser acompanhado no portal Our World in Data por meio deste link aqui.
Os seis países que aparecem no levantamento são: China, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Israel.
Os dois primeiros usam vacinas autorizadas apenas por seus próprios governos. A Rússia, com os imunizantes criados pelo Instituto Vector e pelo Instituto Gamaleya (Sputnik V), e a China, com as vacinas de três fabricantes: Sinopharm, CanSino e Sinovac (parceira do Instituto Butantan, em São Paulo).
Nenhuma das vacinas chinesas concluiu as três fases de estudos de segurança e eficácia que antecedem a aprovação por órgãos reguladores de outros países.
Reino Unido, EUA, Israel e Canadá começaram a distribuir o imunizante criado em parceira pela alemã BioNTech e a americana Pfizer. E apenas os EUA aprovaram e distribuíram a vacina da americana Moderna.
Um monitoramento da Universidade Duke, dos EUA, que pode ser acompanhado neste link, indica que os números devem começar a deslanchar pelo mundo depois da aprovação da vacina fabricada em parceria pela Universidade de Oxford e a farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca, que já negociaram mais de 2 bilhões de doses com diversos países.
Apenas no Brasil, por exemplo, espera-se imunizar mais de 130 milhões de pessoas em 2021 com essa vacina Oxford/AstraZeneca, que seria fabricada no país em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Esse imunizante, no entanto, ainda não foi aprovado por nenhum órgão regulador do mundo.
Imunização ainda engatinha
Em números absolutos, o país com mais pessoas vacinadas é a China, com 1 milhão de imunizados. Isso representa, no entanto, cerca de 0,07% de sua população, que beira os 1,4 bilhão de habitantes.
O governo chinês pretende escalar rapidamente a imunização no país. Segundo reportagem do jornal South China Morning Post, o país começou os preparativos para vacinar 50 milhões de pessoas contra o coronavírus antes do pico das viagens ligadas ao Ano Novo Lunar chinês, em meados de fevereiro, período em que geralmente centenas de milhões de pessoas viajam dentro da China.
As 100 milhões de doses previstas seriam distribuídas até 15 de janeiro (primeira aplicação) e até 5 de fevereiro (segunda aplicação de reforço) pelas fabricantes Sinovac e Sinopharm, esta responsável por grande parte das 1 milhões de doses aplicadas até agora.
Em segundo lugar no ranking de números absolutos, aparecem os EUA, com 556 mil pessoas imunizadas, ou 0,17% de sua população de quase 330 milhões de habitantes. Um deles foi o presidente eleito, Joe Biden, que foi imunizado ao vivo na televisão, assim como o atual vice-presidente, Mike Pence.
Em terceiro aparece o Reino Unido, primeiro país ocidental a autorizar o uso de vacinas. Até agora foram imunizadas cerca de 500 mil pessoas no país. Isso representa o maior número relativo de vacinados, 0,74% da população de quase 68 milhões de pessoas.
O Reino Unido pretende imunizar até a Páscoa, em abril, grande parte dos mais vulneráveis pela doença, incluindo 12 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Mais de 90% das mortes no país atingiram essa faixa etária.
Em seguida aparecem no ranking Rússia, com 200 mil pessoas imunizadas (ou 0,14% do total), Canadá (17,6 mil pessoas, ou 0,05% do total ) e Israel (10 mil pessoas, ou 0,12% do total).
Outros países já aprovaram vacinas e estão em vias de começar a imunização com a vacina da BioNTech/Pfizer como Singapura, Chile, México, Emirados Árabes Unidos e os 27 integrantes da União Europeia.
Essa dupla de fabricantes já negociou mais de 700 milhões de doses, mas o Brasil ainda não fechou contrato com eles primeiro por falta de interesse e depois por "entraves jurídicos", segundo palavras do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O país resiste à exigência das duas empresas de serem blindadas contra eventuais processos judiciais.
Países ricos com excesso de doses garantidas
Países ricos estão reservando para si mais doses do que de fato precisam das vacinas contra a covid-19, o que vai deixar desamparada a população de países mais pobres, adverte a coalizão People's Vaccine Alliance (Aliança da Vacina do Povo, em tradução livre, grupo que reúne organizações como Oxfam, Anistia Internacional e Global Justice Now).
O grupo estima que quase 70 países de baixa renda só conseguirão vacinar 1 em cada 10 de seus cidadãos, mesmo que os criadores da vacina de Oxford/AstraZeneca terem prometido ofertar 64% de suas doses a países em desenvolvimento.
Estima-se também que pelo menos um quarto da população global só vai começar a receber vacina em 2022.
Mas nem todas as candidatas a vacina conseguirão passar com sucesso por todos os testes, e os países mais ricos buscaram ampliar o leque de possibilidades.
O Canadá, por exemplo, encomendou número de doses o bastante para imunizar seus cidadãos cinco vezes.
A União Europeia garantiu 1,5 bilhão de doses, sendo que sua população somada não passa de 450 milhões de pessoas.
Outro exemplo vem da vacina da Pfizer/BioNTech: segundo a Global Justice Now, mais de 80% das doses foram compradas em antecedência por governos que reúnem apenas 14% da população global.
Até agora mais de 8 bilhões de doses foram negociadas, e o dobro disso seria necessário para imunizar a população mundial inteira.
O Brasil planeja distribuir em 2021 ao menos 260 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca e 46 milhões da Sinovac. A Universidade Duke contabiliza também outras 50 milhões de doses da Sputnik V, do instituto russo Gamaleya, mas contratos negociados com Estados ainda não foram concluídos.
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