Uma espécie de abelha no Vietnã usa excrementos de animais, que grudam na entrada de suas colmeias, para dissuadir temidas vespas gigantes de se aventurarem por ali - mostra um estudo publicado na quarta-feira (9/12).
Como todas as abelhas, a espécie "Apis cerana" não pode competir com os ataques de vespas gigantes, como a vespa soror, ou a vespa-mandarina.
Em primeiro lugar, porque são "quatro ou cinco vezes maiores", explica à AFP Heather Mattila, professora de biologia da American University, de Wellesley.
Outro motivo é que, enquanto uma vespa comum ataca sozinha, as espécies gigantes "fazem ataques em grupo", continua a autora deste estudo publicado na Nature Communications.
Normalmente, uma vespa "exploradora" marcará quimicamente uma colmeia, esfregando sua barriga, antes de retornar com até 50 de sua espécie.
Seu objetivo é "assumir o controle da colmeia, matando todas as operárias ou afugentando-as, antes de penetrar no ninho, roubar as larvas e levá-las para casa para alimentar seus filhotes", explica Mattila.
As abelhas não têm falta de recursos para se opor a essas incursões. Elas usam, por exemplo, uma técnica de "heat-balling" ("bola de calor"), na qual cerca de 100 delas se aglutinam ao redor da vespa-gigante-asiática, formando uma bola, cujo calor a mata.
Esta é a primeira vez, no entanto, que pesquisadores observam o uso de excrementos.
O princípio ativo, uma incógnita
No Vietnã, alguns apicultores notaram o estranho balé de suas abelhas depositando algo depois de um ataque de vespas, mas apenas um deles sugeriu que era excremento de búfalo d'água.
"Achamos que era loucura, porque as abelhas não coletam excrementos", disse Mattila, lembrando que se trata de um inseto particularmente limpo e cuidadoso.
Mas, de fato, é o que elas fazem, aplicando uma constelação de pedaços de esterco, ou de excremento de galinha na entrada de sua colmeia após um ataque, ou quando detectam a marca de uma vespa exploradora em sua colmeia.
E, quanto mais denso esse arranjo, mais eficaz ele é, constatou a equipe de Mattila, que estudou três apiários durante dois meses de outono, uma época em que as vespas gigantes multiplicam seus ataques para atender às necessidades de seus próprios ninhos.
Em média, as vespas passavam quatro vezes menos tempo na entrada da colmeia, quando ela estava cheia de excremento.
Os cientistas têm "a prova de que os excrementos serve de repelente", afirma.
Ela também sugere que seu odor pode mascarar o da colmeia, ou a marca deixada por uma vespa exploradora.
Mattila confessa ignorar o princípio ativo. É um produto da digestão, ou "muito provavelmente, algo que se recicla na comida dos animais" (búfalos, porcos, ou frangos), como uma espécie de planta? Ou, mais prosaicamente, o próprio excremento?
A partir daí para imaginar que bastaria proteger as colmeias com excrementos é apenas um passo, mas a cientista desaconselha.
"Seria uma péssima ideia. As abelhas buscam usar algo muito particular e tem que entender o que é", sem mencionar o risco de desnaturalizar o mel que produzem, concluiu.
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