As negociações entre União Europeia (UE) e Reino Unido por um acordo pós-Brexit permaneciam bloqueadas nesta segunda-feira, apesar do esforço anunciado pelas duas partes no fim de semana, o que aumenta o temor de um divórcio litigioso de consequências econômicas imprevisíveis.
O principal negociador europeu, o francês Michel Barnier, comunicou aos embaixadores dos países membros da UE que não foram registrados avanços nos três temas que bloqueiam o acordo.
Trata-se dos mesmos temas que impediram um acordo nos últimos dois meses: direitos de navios europeus de pescar nas águas britânicas, normas de concorrência e ajudas estatais às empresas britânicas e a gestão jurídica da futura relação, em particular resolução de controvérsias.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, devem conversar por telefone às 16H00 GMT (13H00 de Brasília) para avaliar a situação, o que pode selar o destino das negociações.
Mas o governo britânico já afirmou que não retomará as negociações comerciais pós-Brexit com no próximo ano caso um acordo não seja alcançado em dezembro.
"Nós estamos preparados para negociar enquanto tivermos tempo disponível, se acreditarmos que que um acordo ainda é possível", disse o porta-voz do primeiro-ministro Boris Johnson.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de retomar os contatos em 2021, após o fim do período de transição, como sugeriram algumas fontes em Bruxelas, o porta-foz respondeu: "Isto eu posso descartar".
Na sexta-feira, as equipes de negociação, lideradas pelo francês Barnier e o britânico David Frost, anunciaram uma "pausa" das conversações em Londres diante da impossibilidade de resolver as divergências.
Von der Leyen e Johnson já conversaram por telefone no sábado. Durante o contato, considerado difícil por várias fontes, os dois concordaram com um encontro dos negociadores no domingo em Bruxelas para avaliar mecanismos de solução de diferenças.
O Reino Unido saiu formalmente da União Europeia no início do ano e as partes estabeleceram um período de transição até 31 de dezembro, quando Londres deixará de modo definitivo o mercado único e a união alfandegária.
O período de transição foi definido justamente para que Londres e Bruxelas negociem um acordo sobre como funcionaria a relação comercial a partir de 1 de janeiro de 2021, mas até agora os esforços para alcançar o entendimento não deram resultados.
Além disso, um eventual acordo teria que ser ratificado pelas partes e altos funcionários do Parlamento Europeu já afirmaram que precisam de tempo para revisar o texto de um pacto antes de submetê-lo à votação.
Caso as partes não consigam um acordo, a partir de 1 de janeiro de 2021 as relações comerciais passariam a ser pautadas pelas normas da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que significaria cotas e tarifas, um quadro que pode prejudicar ainda mais economias já afetadas pela pandemia de covid-19.
Os esforços da equipe de negociação europeia provocaram preocupação em várias capitais, com a possibilidade de concessões consideradas excessivas.
Na semana passada, um ministro francês advertiu que Paris bloquearia um acordo que não atendesse às demandas definidas pela UE e especificadas no mandato dado a Barnier.
Pressão adicional
Para aumentar a pressão, o ministro britânico que coordena a ação do governo, Michael Gove, viajou a Bruxelas para um encontro com o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Maros Sefcovic.
O tema da reunião é o polêmico projeto de lei britânico sobre o Mercado Interno, que altera de forma unilateral aspectos negociados exaustivamente e que constam no Acordo de Retirada.
Para a aprovação na Câmara Baixa do Parlamento britânico, os legisladores retiraram da lei os artigos que violam o Acordo de Retirada, mas o governo avisou que tentará reintroduzi-los no texto que será votado na Câmara Alta.
Em particular, os artigos em questão violam o que foi estabelecido por Bruxelas e Londres sobre a situação entre a república da Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte.
O regime estabelecido no Acordo de Retirada é considerado essencial para a manutenção da paz ao evitar uma fronteira física na ilha e, por este motivo, a proposta do governo britânico foi recebida com irritação pelas capitais europeias.
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