Em uma celebração que seguiu protocolo digno dos maiores mártires da República Islâmica do Irã, autoridades do país se despediram de Mohsen Fakhrizadeh e deram detalhes sobre a operação que resultou na morte do influente físico nuclear, na sexta-feira, perto de Teerã. Em entrevistas à mídia iraniana, o almirante Ali Shamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, falou que Fakhrizadeh foi vítima de “uma operação complexa, com o uso de equipamentos eletrônicos” e acusou o Mossad, o serviço secreto israelense, de participação no assassinato.
De acordo com o almirante, os mojahedins do povo, um grupo de oposição no exílio, “deve estar envolvido”, mas “o elemento criminoso de tudo isso é o regime sionista e o Mossad”. Ali Shamkhani disse ainda que o cientista havia sido alvo de outros ataques. “Desta vez, o inimigo usou um estilo e um método totalmente novos, profissionais e especializados, e conseguiu atingir o objetivo que perseguia havia 20 anos.”
Sem citar fontes, a agência de notícias iraniana Fars afirmou que o ataque foi realizado com uma “metralhadora automática de controle remoto”. Referindo-se a uma “fonte informada”, a Press TV, um canal de notícias em inglês para a televisão estatal, relatou que as armas recuperadas do local do assassinato foram “fabricadas em Israel”. Mohsen Fakhrizadeh foi morto em um ataque com carro-bomba seguido de um tiroteio contra o carro em que estava, de acordo com o ministério da Defesa.
“Castigo decisivo”
Israel não reagiu oficialmente às acusações lançadas pelas autoridades iranianas. Em 2018, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apresentou o físico como chefe de um programa nuclear militar secreto — informação sempre negada pelo Irã. Mohsen Fakhrizadeh era pouco conhecido, mas, após o assassinato, ficou clara sua importância para o país.
“Se nossos inimigos não tivessem cometido esse crime desprezível e derramado o sangue de nosso querido mártir, ele poderia ter permanecido desconhecido”, disse o ministro da Defesa, Amir Hatami, durante o enterro. A oração fúnebre foi conduzida por Ziaoddine Aqajanpour, representante do guia supremo do Irã, Ali Khamenei. “Teremos paciência (...) mas a nossa nação exige a uma só voz um castigo decisivo” contra os responsáveis pelo assassinato, afirmou.
Deputados do país também exigem que sejam suspensas as inspeções nas instalações nucleares. Ontem, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, alertou que Teerã não “tem nada a ganhar” com essa medida. “É fundamental dar ao mundo as garantias necessárias e confiáveis de que não haverá desvio do programa nuclear para uso militar”, justificou.