Teerã

Cientista assassinado no Irã era considerado mentor do programa nuclear do país

Mohsen Fakhrizadeh foi emboscado na cidade de Absard, 70 km a leste de Teerã. Quatro agressores abriram fogo depois que testemunhas ouviram uma explosão

Um cientista nuclear iraniano descrito como o guru do programa nuclear iraniano foi baleado na rua em uma cidade perto de Teerã nesta sexta-feira, 27.
Mohsen Fakhrizadeh foi emboscado na cidade de Absard, 70 km a leste de Teerã. Quatro agressores abriram fogo depois que testemunhas ouviram uma explosão. Os esforços para tentar salvar Fakhrizadeh falharam e seus guarda-costas também foram feridos.
O Ministério da Defesa iraniano confirmou a morte de Fakhrizadeh em um comunicado. "Durante o confronto entre sua equipe de segurança e os terroristas, Mohsen Fakhrizadeh ficou gravemente ferido e foi levado ao hospital", disse o comunicado. "Infelizmente, a equipe médica não conseguiu reanimá-lo e, há poucos minutos, esse importante cientista, após anos de esforço e luta, atingiu um alto grau de martírio."
O ministro das Relações Exteriores do Irã disse que Israel provavelmente esteve envolvido no assassinato do cientista nuclear, embora não tenha apresentado nenhuma evidência. Fakhrizadeh foi identificado pelo primeiro-ministro de Israel em uma apresentação pública em 2018 como o diretor do projeto de armas nucleares do Irã. "Lembrem-se desse nome, Fakhrizadeh", disse Binyamin Netanyahu durante a apresentação.
"Essa covardia - com sérios indícios do papel israelense - mostra uma provocação desesperada para uma guerra pelos perpetradores", tuitou o chanceler Mohamed Javad Zarif. "O Irã apela à comunidade internacional - e especialmente à UE - para acabar com seus vergonhosos padrões duplos e condenar este ato de terrorismo de Estado."
Em 2018, Netanyahu acusou o Irã de esconder e expandir seu conhecimento sobre armas nucleares, dizendo que a inteligência israelense havia obtido informações sobre um depósito de meia tonelada de material nuclear do país.
O ataque desta sexta-feira foi confirmado pela TV estatal iraniana, mas depois negado pela Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI) antes de ser confirmado pelo Ministério da Defesa. Fotos do suposto local do ataque também apareceram nos sites de notícias iranianos. As forças de segurança bloquearam a avenida onde ocorreu o ataque.
Um porta-voz dos militares israelenses disse: "Não comentamos sobre notícias na mídia estrangeira". O gabinete do primeiro-ministro de Israel disse que não comentaria "sobre tais relatos".
Tensões internacionais
Os relatos confusos da mídia iraniana refletem as altas tensões dentro do país, em meio a relatos de que a inteligência israelense e o serviço secreto receberam luz verde para organizar ataques a instalações nucleares iranianas antes que Donald Trump deixe a Casa Branca.
O ataque ocorreu uma semana depois de uma visita do secretário de Estados americano, Mike Pompeo, a Israel, e de uma não confirmada e histórica viagem de Netanyahu à Arábia Saudita.
Muitas autoridades iranianas acreditam que Trump, em conjunto com Israel e a Arábia Saudita, está determinado a enfraquecer ou antagonizar o Irã antes da transferência do poder nos EUA em 20 de janeiro.
O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, disse que está disposto a se juntar novamente ao acordo nuclear com o Irã e suspender algumas sanções econômicas, desde que o Irã volte a cumprir o acordo, especialmente sobre seus estoques excedentes de urânio enriquecido.
Israel e a Arábia Saudita querem que os EUA permaneçam fora do acordo e continuem com uma política de sanções econômicas.
Fakhrizadeh está em uma lista de nomes de autoridades que sofreram sanções dos EUA, e era considerado o principal detentor do conhecimento iraniano sobre o programa nuclear do país.
Brigadeiro-general do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) e professor de física na Universidade Imam Hussein, que forma integrantes da Guarda Revolucionária, Fakhrizadeh era considerado um homem envolto em mistério.
Até abril de 2018, nenhuma fotografia dele estava disponível publicamente e, após a morte de vários outros cientistas nucleares, uma camada adicional de sigilo e segurança foi colocada em torno dele, em um esforço para protegê-lo contra assassinos do serviço secreto de Israel.
Ele assumiu o comando do Centro de Pesquisa de Física do Irã em 1988 e, em seguida, tornou-se chefe de pesquisa do Instituto de Física Aplicada, de onde o programa secreto de pesquisa nuclear do Irã foi conduzido.
Ele nunca havia sido entrevistado por um membro da AIEA, órgão de vigilância nuclear da ONU, mas foi citado em seus relatórios. (Com agências internacionais)