Os países do G20 pediram neste sábado (21), primeiro dia de sua cúpula anual, organizada este ano pela Arábia Saudita em formato virtual, um esforço global para facilitar o acesso às vacinas contra o coronavírus e lutar contra suas devastadoras consequências econômicas, incluindo a dívida, entre elas a dívida.
A reunião de dois dias dos países mais ricos do mundo (19 nações, às quais se soma a União Europeia) acontece em um momento em que o grupo recebe críticas por sua resposta à recessão mundial e quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua sem reconhecer sua derrota nas eleições presidenciais.
Desta vez, não houve uma grande cerimônia de abertura, nem a oportunidade de chegar a acordos bilaterais. A cúpula - primeiro G20 em um país árabe - ficou limitada a sessões curtas online.
"Embora estejamos otimistas com o progresso no desenvolvimento de vacinas, terapias e ferramentas de diagnóstico para a covid-19, devemos trabalhar para criar as condições para um acesso barato e igualitário a essas ferramentas para todos", disse o rei Salman em seu discurso de abertura, sob o olhar do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, líder de fato do país.
Na abertura por videoconferência foram vistas imagens incomuns, como o presidente chinês Xi Jinping pedindo ajuda de um técnico ou a do presidente francês rindo e falando com alguém atrás da câmera.
O anfitrião da cúpula apareceu no centro da tela rodeado por imagens em miniatura de líderes mundiais, uma imagem que se tornou comum pelo mundo desde o aparecimento do vírus.
Alguns pareciam não dominar esse formato ainda, e o presidente francês Emmanuel Macron foi visto brincando com alguém fora de cena, e seu equivalente chinês Xi Jinping chamando um de seus assistentes.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma breve aparição em que falou principalmente sobre o balanço de seu governo, disseram dois participantes à AFP. Em seguida, ele foi para um campo de golfe perto de Washington.
- Um mundo em duas velocidades -
"Estaremos preparados para garantir o acesso [às vacinas] em escala global e evitar a todo custo o cenário de um mundo em duas velocidades?", questionou o presidente francês Emmanuel Macron em seu discurso.
Junto com a questão da distribuição da vacina, o G20 deverá responder aos apelos para expandir seu financiamento de combate ao vírus, que infectou mais de 55 milhões de pessoas e matou mais de 1,3 milhão em todo o mundo.
Antes mesmo do início da cúpula, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse que "há um déficit de 28 bilhões [de dólares], dos quais 4,2 bilhões serão necessários antes do final do ano" para financiar o ACT-Accelerator, dispositivo da Organização Mundial da Saúde para garantir que os países ricos não monopolizem tratamentos, testes ou vacinas.
"O acesso à vacinação deve ser possível e acessível para todos os países", declarou a chanceler Angela Merkel, enquanto o presidente Jair Bolsonaro assegurou que "desde o início exaltamos que era preciso cuidar da saúde e da economia simultaneamente. O tempo vem provando que estávamos certos".
Os países do G20 já gastaram mais de 21 bilhões de dólares (17,7 bilhões de euros) para combater o coronavírus. Também mobilizaram cerca de 11 trilhões de dólares para salvar a economia mundial, segundo os organizadores.
- "Níveis alarmantes de desigualdade" -
Os membros do G20 também devem abordar a dívida dos países mais pobres, que enfrentam o colapso de seu financiamento externo.
Em abril, o G20 adotou uma moratória de seis meses para o pagamento da dívida, que vai até junho de 2021. Guterres pediu um "compromisso firme" para que esse período de carência seja estendido até o final de 2021.
Nesse sentido, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, denunciou neste sábado na cúpula os "níveis alarmantes de desigualdade" no mundo, pediu "cooperação e solidariedade" e lembrou que seu país fez um "enorme esforço fiscal".
Além de Bolsonaro e Fernández, também participa do G20 o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, representantes dos três únicos países latino-americanos do G20.
Os abusos dos direitos humanos na ultraconservadora Arábia Saudita ofuscaram a cúpula, com a qual Riade esperava melhorar sua imagem após as reformas de Mohamed bin Salman, destinadas, entre outras coisas, a reduzir sua dependência dos lucros do petróleo.