Somente nesta quarta-feira (18/11), 161.394 norte-americanos testaram positivo para a covid-19. Outros 1.707 morreram em 24 horas, o recorde dos últimos seis meses. Até a última atualização desta reportagem, 250.029 vidas foram perdidas nos Estados Unidos e 11,4 milhões de pessoas contraíram o Sars-Cov-2. Apesar do panorama sombrio, o governo do republicano Donald Trump promete dificultar a estratégia de combate ao coronavírus do presidente eleito, Joe Biden. O Departamento de Serviços Humanos e Saúde descartou cooperar com a equipe de transição do democrata até que as autoridades eleitorais declarem, oficialmente, o vencedor das eleições de 3 de novembro.
Depois de convocar uma equipe de 13 cientistas renomados para conter a disseminação da covid-19, Biden participou de uma videoconferência com quatro trabalhadores da área de saúd envolvidos diretamente na resposta à pandemia, os quais classificou como “verdadeiros heróis”. “Eles estão fazendo sacrifícios extraordinários todos os dias. Merecem líderes que os escutem e que trabalhem tão arduamente por eles quanto têm feito por suas comunidades, Como presidente, é exatamente isso que farei”, prometeu o presidente eleito.
Membro do Comitê Executivo da Federação Americana de Professores e moradora de Berea (Ohio), a enfermeira Patricia Forrai-Gunter foi uma das participantes da conversa com Biden. Em entrevista ao Correio, ela contou que foi escolhida por ser enfermeira de uma escola. “Acho que Joe Biden prefere conversar e ter respostas honestas de pessoas que fazem o trabalho contra a covid-19. Isso o ajuda a traçar seu plano para quando se tornar presidente. Ele tenta compreender o que realmente ocorre nos hospitais, nas escolas e nas comunidades”, disse, ao explicar que os participantes da videoconferência também representavam sindicatos.
“Sou enfermeira há 38 anos em uma escola de uma cidade do interior (Berea), com 100% de pobreza e cuja população é 85% formada por minorias. As escolas estão fechadas desde 20 de março, trabalhamos de forma remota”, acrescentou Patricia. “A situação está piorando, e já enfrentamos a segunda onda. Há um enorme aumento no número de casos. Nossos profissionais de saúde estão exaustos, física e mentalmente.”
Com a escalada da pandemia e o temor de uma segunda onda, Bill De Blasio, prefeito de Nova York, anunciou o fechamento de todas as 1.800 escolas públicas da cidade. A partir de hoje, elas vão oferecer apenas aulas on-line por tempo indeterminado. O vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, alertou para o número recorde de hospitalizações nos Estados Unidos (76.830). “Os Estados Unidos continuam assistindo a uma aceleração de casos (de covid-19), reportando mais de 1 milhão de novas infecções somente na última semana”, advertiu.
Professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown e especialista em direito de saúde pública, Lawrence Gostin afirmou ao Correio que “os EUA caminham para um aumento cada vez maior de casos de covid-19, hospitalizações e mortes”. “Até que uma vacina seja amplamente disponível em meados de 2021 (leia na página 16), não vejo nenhuma chance razoável de controlarmos a covid-19 nos próximos meses”, comentou. Para Gostin, não existe um plano nacional de combate à pandemia nos EUA. “O governo Trump não apenas contradisse os cientistas, também não transmitiu mensagens científicas claras. Não há nenhuma estratégia clara, além de esperar pela vacina.”
Ao ser questionado sobre as medidas necessárias para reduzir a taxa de transmissão, Gostin disse que o país precisa impor o uso generalizado de máscaras e o distanciamento social. “Esta é a única forma de reverter o aumento nos casos, mas não vejo isso ocorrer. As máscaras têm se tornado um símbolo político, não uma medida de saúde pública. Somente começaremos a conter quando tivermos o imunizante”, reforçou.
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“O governo Trump não apenas contradisse os cientistas, também não transmitiu mensagens científicas claras. Não há nenhuma estratégia clara, além de esperar pela vacina...” Lawrence Gostin, professor de medicina da Universidade Johns Hopkins e da Universidade Georgetown e especialista em direito de saúde pública.
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Robert Charles Gallo, um dos infectologistas que isolaram o HIV, vírus causador da Aids, em 1984. Cofundador e diretor do Comitê de Lideranças Cientificas Internacionais da Rede Global de Vírus e diretor do Instituto deVirologia Humana (IHV) da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland
Os Estados Unidos atingiram, hoje, 250 mil mortes pela covid-19. Como o senhor avalia a atual situação da pandemia no país?
Os Estados Unidos, como sempre fazem, vão superar isso. Eu me preocupo mais com o Brasil, que pode não ser tão capaz.
Por que as medidas tomadas pelo governo Trump foram insuficientes para conter a transmissão do Sars-CoV-2?
As medidas têm sido insuficientes para todo o mundo, exceto para a China. Mas, a China teve várias experiências anteriores com epidemias de coronavírus e possui um regime autocrático. Não acho que Trump e seu grupo fizeram um bom trabalho. Mas, quem realmente fez? Certamente, nem a Europa, nem a América do Sul. Não foi um caminho óbvio e fácil de seguir. Todos tivemos dificuldades. Agora, precisamos nos preparar para a vacina produzida nos EUA.
Que ações são necessárias para que os Estados Unidos consigam controlar a pandemia?
O país precisa obter a vacina, prestar mais atenção às diretrizes de biossegurança e aplicá-las o mais fortemente possível. Por último, utilizar imunoestimulantes inatos como vacinas de vírus atenuados “vivos”, como OPV (via oral), MMR (tríplice viral) ou até mesmo feitos com bactérias, como a BCG.