A segunda onda da covid-19 avança com a intensidade de um tsunami sobre países da Europa, que chegam a ter, agora, mais casos e óbitos provocados pela doença do que no início do ano, quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo. O continente é o que acumula mais mortes nas últimas semanas. Nos últimos sete dias, o número aumentou 25% em relação à semana anterior. A situação agrava-se, especialmente, na França, na Itália e na Grécia. A Alemanha, que tomou medidas aos primeiros sinais de reincidência, começa a apresentar melhoras.
Entre quarta-feira e ontem, mais de 10 mil pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 morreram, segundo contagem da agência de notícias France-Presse (AFP). Sem contar as possíveis correções ou modificações por parte das autoridades sanitárias, foi a primeira vez, desde o início da pandemia, que se atinge essa cifra simbólica em 24 horas. Desse total, 4.961 ocorreram na Europa, 1.868 na América Latina e Caribe e 1.330 nos Estados Unidos, país que contabilizou o maior número de mortes em um dia.
Nos últimos sete dias, 18 países — dos quais 11 europeus — tiveram uma média de mais de 100 mortes por dia. Nos EUA, foram 1.038 óbitos por dia em média; na Índia, 566, e na França, 552.
Tendência preocupante
Entre os países europeus que registraram mais de 700 mortes em uma semana, a Itália é o que apresenta a tendência mais preocupante: 3.189 mortes em sete dias, em comparação a 1.859 mortes na semana anterior, o que representa um aumento de 72%. Aparecem, em seguida, Alemanha (955, + 52%), Polônia (2.330, + 43%), França (3.861, + 34%) e Bélgica (1.435, + 32%).
Na Grécia, o número diário de mortes quadruplicou desde o fim de outubro e chegou a 42 mortes, enquanto as infecções se aproximam de 3 mil no mesmo período. “As próximas semanas serão extremamente críticas”, alertou, ontem, o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, durante um tenso debate no parlamento em Atenas. Apesar do início de um bloqueio parcial há duas semanas, a situação continuou a piorar e o governo conservador anunciou um bloqueio geral até 30 de novembro.
Desde então, os gregos só podem se deslocar se tiverem uma autorização oficial enviada por SMS. Além disso, o governo anunciou um toque de recolher noturno que proíbe as saídas, exceto em casos excepcionais, a partir das 21h. A medida entra em vigor hoje. Desde fevereiro, 909 pessoas morreram e 63 mil foram infectadas no país.
Tão grave quanto é a situação na França, onde as internações por coronavírus já excedem as da primeira onda, com mais de 32 mil pacientes hospitalizados. “Nos últimos dias, registramos uma hospitalização a cada 30 segundos e uma admissão à terapia intensiva a cada 3 minutos”, relatou o primeiro-ministro francês, Jean Castex.
No total, 4.803 pessoas estão atualmente em terapia intensiva em toda a França, o que corresponde a 95% das capacidades totais. “Seria irresponsável suspender ou mesmo flexibilizar o dispositivo de confinamento”, disse o premiê, que enfrenta forte reação dos comerciantes. O presidente francês, Emmanuel Macron, decretou um novo confinamento a nível nacional em 30 de outubro, o que obriga ao fechamento de negócios considerados não essenciais.
Em Roma, 15 hotéis recebem pacientes de hospitais lotados. Com capacidade para 800 leitos, o famoso Sheraton Parco de’Medici tem metade deles ocupados, segundo dados da região do Lazio. “A falta de leitos nos últimos dias levou ao bloqueio de ambulâncias na entrada de emergência dos hospitais”, explicou Simona Amato, diretora de um dos centros de saúde da capital italiana.
A Itália, o primeiro país europeu a ser afetado pelo coronavírus no início deste ano, registrou um aumento alarmante de casos nas últimas semanas, com mais de 30 mil infectados e 600 mortes notificadas ontem.
Enquanto isso, uma luz no fim do túnel começa a aparecer na Alemanha. “A curva está achatando”, declarou Lothar Wieler, diretor do instituto de controle de doenças Robert Koch. A taxa de infecção é próxima a um, depois de ter sido superior a três em algumas regiões do país nas últimas semanas, quando um paciente infectava três pessoas.
Medidas de restrição, como o fechamento de bares e de restaurantes, a obrigação de usar máscara, ou limitações a reuniões privadas, “mostram que não somos impotentes” diante da epidemia de covid-19, enfatizou Wieler. Ele frisou, contudo, que a situação ainda é “muito grave”. A Alemanha registrou 21.866 novas infecções entre quarta-feira e ontem.