Pesquisadores da Universidade de Stanford, no estado da Califórnia, coletaram dados de movimentação de pessoas em 10 cidades dos Estados Unidos e criaram um modelo que sugere quais são os lugares onde há mais chances de transmissão da covid-19, contanto que não haja o uso de máscaras.
Os resultados da pesquisa foram publicados na terça-feira (10/11), na renomada revista científica Nature e, de acordo com os dados reunidos em Chicago – a terceira cidade mais populosa do país –, a ordem dos locais de menor e maior risco de contágio são os seguintes:
- Restaurantes de "serviço completo" – em que as pessoas se sentam para comer e são servidas por um funcionário
- Academias
- Cafés e bares
- Hotéis e motéis
- Restaurantes de "serviço limitado" – em que as pessoas podem levar a comida ou se sentar, mas pagam antes
- Centros religiosos
- Consultórios médicos
- Mercados
- Lojas de mercadorias usadas
- Pet shops
- Lojas de equipamentos esportivos
- Outras lojas gerais
- Lojas de brinquedos ou relacionadas a hobbies
- Lojas de material de construção
- Lojas de peças automotivas
- Lojas de departamento
- Postos de gasolina – nos Estados Unidos, o costume é que o próprio motorista abasteça o carro
- Farmácias
- Lojas de conveniência
- Concessionárias
Recomendações do especialista
Ao portal G1, o autor sênior do estudo, Jure Leskovec, recomendou que "se você tiver que ir a esses lugares, vá fora dos períodos de pico, quando há menos pessoas".
Nesta primeira pesquisa, os dados de mobilidade foram coletados quando o uso de máscaras era menos prevalente. Por isso, o ranking não leva em conta o uso do equipamento individual de proteção.
"No entanto, na 2ª onda, vemos que a mobilidade das pessoas aumentou, mas o número de infecções não aumentou tanto quanto deveria. Portanto, atribuímos o número de infecções inferior ao esperado ao uso de máscaras", disse o pesquisador ao portal.
Tecnologia atrelada à movimentação
Para investigar a mobilidade das pessoas e chegar aos resultados da pesquisa, os autores utilizaram um modelo baseado nos movimentos rastreados pelos celulares de 1º de março a 2 de maio. À época, os cidadãos norte-americanos tiveram a mobilidade restringida como forma de conter a transmissão do novo coronavírus.
Eles, então, construíram um modelo considerando maiores ou menores graus de mobilidade dos cidadãos, e em diferentes datas, para analisar como a transmissão do vírus iria se comportar.
Com os dados, os cientistas mapearam o os chamados "pontos de interesse" – locais não residenciais que as pessoas visitam como restaurantes, academias, mercados e centros religiosos.
A partir daí, eles descobriram que a maioria das infecções pelo vírus ocorrem em lugares "superespalhadores". Na região metropolitana de Chicago, por exemplo, 10% dos pontos de interesse foram responsáveis por 85% das infecções previstas para todos os lugares investigados.
"Calculamos a densidade de visitantes em cada ponto de interesse – quantos visitantes existem por metro quadrado. Quanto menor o número, menor a chance de transmissão. Quanto mais tempo as pessoas permanecem no local, maior a chance de transmissão. Nosso modelo considera esses dois fatores", explicou Leskovec, ao G1.
Diferenças socioeconômicas
O estudo sugeriu, ainda, que mesmo frequentando os mesmos lugares, as pessoas com menor nível socioeconômico têm mais chances de se infectar do que aquelas que têm maior.
Isso porque, segundo os pesquisadores, os lugares frequentados pelas pessoas de menor renda tendem a ser mais cheios, além de haver a tendência de que as pessoas permaneçam neles por mais tempo.
O mercado "médio" visitado por quem tinha menor nível socioeconômico tinha 59% mais visitantes por hora por metro quadrado, e seus visitantes ficavam 17% mais tempo em média, segundo os cientistas. Ou seja, uma simples ida ao mercado é considerada mais perigosa para uma pessoa de baixa renda.
Além disso, as pessoas de maior renda foram consideras mais privilegiadas no sentido de poderem restringir a movimentação.
"Essas descobertas destacam como as diferenças refinadas nos padrões de mobilidade – com que frequência as pessoas saem e para quais pontos de interesse elas vão – podem, em última análise, contribuir para disparidades dramáticas nos resultados de infecção previstos", ponderaram os cientistas no artigo.
Possíveis estratégias
Algumas das soluções possíveis seriam adotar estratégias de reabertura com ocupação máxima dos lugares reduzidas.
"A reabertura com ocupação reduzida faz um bom trabalho em lidar com a compensação, permitindo que você recupere a maioria das suas visitas sem incorrer em muitas infecções", pontuou Leskovec.
"Nossos resultados sugerem que as disparidades de infecção não são a consequência inevitável de fatores que são difíceis de tratar em curto prazo, como diferenças em condições preexistentes; pelo contrário, as decisões políticas de curto prazo podem afetar substancialmente os resultados da infecção", concluíram os cientistas.