Mesmo sem ter tido a vitória reconhecida pelo presidente republicano, Donald Trump, Joe Biden, eleito para o próximo mandato na Casa Branca, dá início aos preparativos para a sua gestão. Segundo sua vice-gerente de campanha, Kate Bedingfield, o trabalho de transição “começa imediatamente”. Está prevista para hoje a formação de um grupo de especialistas que desenvolverão um plano internacional de combate à pandemia. A intenção é dar início a um novo enfrentamento à crise sanitária no primeiro dia de governo, em 20 de janeiro. Em seu primeiro discurso após o anúncio da vitória, o democrata enfatizou a importância que dará a essa questão: “Nosso trabalho começa colocando a covid sob controle. Não vamos poupar nenhum esforço para conter essa pandemia”, prometeu Biden.
No site oficial da transição (buildbackbetter.com), o democrata informou os outros “desafios”, além da pandemia, que serão enfrentados a partir do primeiro dia de governo: a crise econômica, a mudança climática e apelos por justiça racial. A página na internet detalha os projetos para cada uma dessas áreas, com a garantia de que a nova Presidência não vai “apenas reconstruir o que funcionou no passado”. “Esta é a nossa oportunidade de reconstruir melhor do que nunca”, afirma a dupla eleita.
Com relação à pandemia, Biden quer melhorar o acesso e os procedimentos de testagem e acatar os conselhos de cientistas, por exemplo. Quanto ao aquecimento global, os planos são de “liderar o mundo no tratamento da emergência climática e atuar com o poder do exemplo.” Durante a campanha, o democrata prometeu a retomada dos Estados Unidos ao Acordo de Paris — a saída oficial se deu no último dia 4, um dia depois das eleições americana. Ele preparou um ambicioso plano de US$ 2 trilhões contra as mudança climática, que inclui uma “revolução da energia limpa” para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Ambientalistas comemoraram a reviravolta na política ambiental estadunidense. “A vitória histórica de Joe Biden é a primeira etapa para evitar uma catástrofe climática”, comentou a diretora-geral do Greenpeace, Jennifer Morgan, no Twitter. “O governo Biden-Harris tem uma ocasião histórica para lançar um dos maiores esforços de reativação verde do mundo para direcionar a economia americana em direção a uma redução sustentável de emissões”, declarou Laurence Tubiana, uma das arquitetas do Acordo de Paris.
Outro eixo importante é a promessa de cancelar o processo de retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o democrata prometeu anular o decreto republicano de imigração que proíbe a entrada no país de cidadãos de vários países muçulmanos e anunciou que abrirá caminho para a regularização de cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos.
Entraves
A atitude de Trump nos próximos dias pesará na capacidade de Biden de atuar antes de 20 de janeiro, uma vez que, para ter acesso às agendas, é necessária uma decisão administrativa para efetivamente lançar a transição. Ontem, Trump, pelo Twitter, voltou a afirmar que a “eleição foi roubada”. A primeira-dama, Melania, usou a mesma rede social para questionar o resultado da apuração. “Devemos proteger nossa democracia com total transparência”, escreveu.
Trump promete seguir com a ofensiva contra as eleições no tribunal e os ataques a instituições democrática, ainda que integrantes do próprio partido temam pelo resultado da investida (Leia mais nesta página). Ontem, após a mensagem criticando o resultado da apuração, o presidente deixou a Casa Branca para jogar golfe. Ele visitou seu campo em Sterling, na Virgínia, perto de Washington. No percurso, enquanto a caravana presidencial passava, presenciou, pelo segundo dia consecutivo, americanos acenando sinais hostis.
Fã do esporte, Trump estava no gramado quando a mídia dos EUA projetou, no sábado, que ele não poderia mais alcançar Biden. Nenhuma imagem circulou do momento em que a derrota foi anunciada. Em um comunicado emitido pela equipe de campanha, o republicano acusou seu rival de “correr para se apresentar falsamente” como o vencedor.
Ao voltar à Casa Branca, que fica no coração da capital, um reduto democrata, a caravana presidencial passou entre uma multidão que chegava ao local para comemorar a vitória de Biden e também acenou ao presidente com hostilidade. “Arrume suas coisas e vá embora”, proclamava um cartaz, enquanto os motoristas buzinavam. À noite, Trump voltou ao Twitter: “71 milhões de votos legais, o maior número já registrado para um presidente em exercício!”, escreveu em uma das mensagens.
Joe Biden, por sua vez, foi à igreja, na manhã de ontem, em sua cidade de Wilmington, em Delaware. O presidente eleito também visitou o cemitério onde está enterrado seu filho mais velho, Beau. Ele havia ido ao local na terça-feira, último dia da votação. Beau, morreu, vítima de câncer, em 2015, aos 46 anos, e Biden, ao relatar sobre a perda do filho, confessa que é um pesar que “nuca se vai”. O episódio impactou tanto o democrata que ele desistiu de brigar pela candidatura à Presidência em 2016. Neste ano, na terceira tentativa, venceu em uma disputa histórica — com recorde de votos e a chegada à Casa Branca do presidente mais velho da história e da primeira vice-presidente negra.