Diante da demora e dos impasses judiciais que multiplicam-se durante a apuração eleitoral americana, a comunidade internacional acompanha com ansiedade o desfecho da disputa. Num cenário ainda aberto, apesar de as projeções matemáticas apontarem para uma possível vitória do democrata Joe Biden, líderes europeus adotam uma postura de cautela, e ressaltam que é necessário aguardar uma definição. Ao mesmo tempo, alguns países com histórico de problemas diplomáticos com os Estados Unidos evitam comentários sobre o pleito, enquanto outros zombam da situação dos americanos.
Após uma série de pedidos à Justiça para suspensão da apuração e acusações de fraude apresentados pelo presidente Donald Trump, autoridades europeias defenderam que confiar no sistema eleitoral é o melhor caminho a ser seguido. “É tão importante que, nesses momentos, o que conte seja a calma, a tranquilidade, a apuração de todos e de cada um dos votos, e que se valorize esse incrível sistema que é a democracia, que é o sistema em que todos queremos viver”, declarou Arancha González Laya, ministra espanhola dos Assuntos Exteriores. “Nós não escolhemos quem vai ser o presidente americano, e nós sempre trabalharemos com quem o povo elege”, acrescentou a chanceler, em entrevista concedida, ontem, a rádio espanhola Onda Cero.
A França também sinalizou que pretende construir uma conexão amigável com o vencedor, seja ele o republicano Trump ou democrata Biden. “A eleição de um presidente depende dos americanos. Teremos que trabalhar com o eleito e com a nova administração americana, aconteça o que acontecer”, ressaltou o ministro das Relações Exteriores, Jean Yves Le Drian.
Para o chanceler francês, Washington e União Europeia terão de construir uma “nova relação transatlântica” após as eleições presidenciais americanas. Ele também destacou sua confiança no sistema eleitoral americano. “Tenho fé nas instituições dos Estados Unidos para validarem os resultados da eleição”, disse Le Drian à rádio francesa Europe 1.
O chanceler Heiko Maas, da Alemanha, reforçou as declarações dos colegas. “É importante que todos os políticos tenham confiança no processo eleitoral e nos resultados”, explicou. Maas também insistiu na necessidade de se ter paciência e esperar o fim da apuração.
Pouco antes, a ministra alemã da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, havia manifestado apreensão diante da “situação muito explosiva” nos Estados Unidos. A ministra alertou para os riscos de uma “potencial crise constitucional” no país. “É algo que deve nos preocupar”, destacou.
Críticas
O Irã não economizou o tom irônico ao comentar os imbróglios da apuração de votos da eleição americana “É uma situação digna de se ver! Ele diz que são as eleições mais fraudulentas da história dos #EUA. Quem? O próprio presidente que está no comando agora!”, declarou, na madrugada de ontem, o aiatolá Ali Khamenei, em mensagem publicada no Twitter.
Em visita à Venezuela, Mohammad Javad Zarif, ministro iraniano das Relações Exteriores, também comentou a demora da divulgação de resultados da eleição americana, assinalando que os EUA não conseguem mais “controlar o que está acontecendo no mundo”. “A hegemonia ocidental acabou”, decretou, ao elogiar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, por resistir a uma suposta campanha coordenada pela Casa Branca para tirá-lo do poder.
Para Moscou, a falta de clareza nos resultados da eleição americana pode ter um impacto negativo na economia global e no mundo em geral. “Tudo que se refere ao nosso país é visto nos Estados Unidos como um pedaço de pano vermelho na frente de um touro”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “Por isso, não fazemos comentários! Os americanos terão, provavelmente, que pôr ordem em seus assuntos”, acrescentou. Peskov apontou, porém, que essa “incerteza (eleitoral) vinculada à primeira economia do mundo (...) poderá ter efeitos negativos no mundo, sobretudo nas finanças”.
A China, que mantém uma relação de altos e baixos com Washington, classificou o assunto como doméstico, evitando comentários.
Na Nigéria, Shehu Sani, senador e ativista na área de direitos humanos, usou um tom de brincadeira para falar das falhas na apuração americana. “A África costumava aprender com a democracia americana, a América agora está aprendendo com a democracia africana. Observadores eleitorais africanos, onde você estão? Flórida, Wisconsin ou Arizona?”, tuitou ontem.
O inusitado ficou por conta do primeiro-ministro da Eslovênia, Janez Jansa. O premiê parabenizou Trump pela vitória, ainda na quarta-feira, após o republicano ter se declarado vencedor das eleições, em meio à apuração. “Parece claro que os americanos elegeram Donald Trump”, tuitou Jansa, líder do partido anti-imigração SDS, aliado do americano.
“A eleição de um presidente depende dos americanos. Teremos que trabalhar com o eleito e com a nova administração americana, aconteça o que acontecer”
Arancha González Laya, ministra dos Assuntos Exteriores da Espanha
“É uma situação digna de se ver! Ele diz que são as eleições mais fraudulentas da história dos #EUA.Quem? O próprio presidente que está no comando agora!”
Aiatolá Ali Khamenei, do Irã, no Twitter