Corrida pela maioria no Congresso

A disputa entre democratas e republicanos estende-se também à Câmara e ao Senado, que elegeu a primeira mulher transgênero na história, Sarah McBride, aliada de Biden

Além de escolher entre o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump na eleição presidencial, os norte-americanos foram às urnas, ontem, também para votar nos candidatos para o Congresso. De acordo com as últimas pesquisas, os democratas podem conquistar a maioria no Senado e manter o domínio na Câmara dos Representantes. Uma das novidades é a democrata Sarah McBride, primeira mulher transgênero da história eleita para o Senado. Aos 30 anos, ela venceu o pleito por Delaware, mesmo estado de Joe Biden. Sarah, aliás, chegou a estagiar na Casa Branca durante a gestão de Barack Obama.

Neste ano, estão em disputa 35 das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 da Câmara. Atualmente, os republicanos tem 53 senadores. Foi com essa maioria que eles conseguiram barrar o impeachment de Trump e, mais recentemente, aprovar a nomeação da juíza conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte.

Das 35 cadeiras em disputa no Senado, 23 hoje são ocupadas por republicanos e 12 por democratas. De acordo com o jornal The Washington Post, desses 23 republicanos, 12 correm risco de perder a vaga. Entre os 12 democratas, há dois que enfrentam uma eleição competitiva.

Os democratas podem terminar a eleição com até 55 dos 100 assentos do Senado, preveem o Centro para Políticas da Universidade da Virgínia, o Cook Political Report e o Inside Elections. Isso daria ao partido de Joe Biden, pela primeira vez em uma década, uma maioria nas duas Casas do Congresso. Também tem potencial para provocar um cenário político caótico, no caso da reeleição de Trump.

Por outro lado, caso Biden vença a eleição e os democratas assumam o controle do Congresso, há a possibilidade da aprovação de uma densa agenda de projetos alinhados com os ideais de centro-esquerda. Essa é a opinião do cientista político Lincoln Mitchell, professor da Universidade de Columbia, em Nova York.

“É quase certo que os democratas manterão o controle da Câmara dos Deputados. Eles têm uma chance de ganhar o controle do Senado, mas eu diria que é cerca de 50-50 de probabilidade agora. No entanto, se o fizerem, vão aprovar uma grande quantidade de legislação no ano que vem, assumindo Biden como presidente. Mas não espero que a legislação seja muito radical, espero que seja mais de centro-esquerda”, disse Mitchell ao Correio.

Limbo
Os senadores, porém, estão se preparando para a possibilidade de não saber por dias, ou mesmo semanas, qual partido terá a maioria em 2021. Espera-se um atraso nos resultados para o Senado, em razão do número recorde de cédulas pelos correios e disputas bastante acirradas, como as que ocorrem nos estados do Arizona, Iowa, Maine e Carolina do Norte. Um eventual atraso em qualquer um desses lugares pode deixar os legisladores em um estado de limbo, enquanto esperam para descobrir quem controlará o Senado a partir de janeiro.

Além disso, estrategistas e observadores políticos esperam que uma, se não ambas as corridas para o Senado na Geórgia, exijam um segundo turno em 5 de janeiro, na mesma semana em que os senadores devem se reunir para o início do 117º Congresso. A lei estadual estipula que um segundo turno é necessário se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos no dia da eleição.

Esse cenário é quase certo na eleição especial para a vaga da senadora republicana Kelly Loeffler, disputada por 20 candidatos. Mas também parece uma possibilidade real na disputa entre o senador republicano David Perdue e o desafiante democrata Jon Ossoff. Pesquisas recentes mostram ambos os candidatos com menos de 50% de apoio.

No Maine, os estrategistas de ambos os partidos esperam possíveis resultados atrasados na disputa entre a senadora republicana Susan Collins e a presidente da Câmara estadual, a democrata Sara Gideon — se nenhum dos candidatos ganhar a maioria dos votos para o primeiro lugar, o estado usará uma escolha por ranking no processo para determinar o vencedor.

No Arizona, os votos antecipados e as cédulas de ausentes, registrados alguns dias antes da votação de ontem, começaram a ser contados, e os resultados deveriam ser tornados públicos logo após o encerramento das urnas. Por sua vez, as cédulas de ausentes recebidas na segunda e terça-feira levarão alguns dias para serem tabuladas.

“É quase certo que os democratas manterão o controle da Câmara”

Lincoln Mitchell, cientista político e professor da Universidade de Columbia, em Nova York

 


Barroso relata polarização

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, está nos Estados Unidos como observador convidado das eleições no país. Barroso postou em suas redes sociais as impressões sobre as possibilidades de votação da população, além da comparação com Brasil em relação ao clima de polarização. “Atuando como observador convidado nas eleições americanas, por onde passei, tudo estava tranquilo e organizado, a despeito da disputa acirrada e do clima de polarização”, escreveu o ministro. “As diferenças com o sistema brasileiro são muitas, a começar pela possibilidade do voto antecipado pelos correios. Além disso, a cédula de votação traz outros temas fora da eleição presidencial, como consultas sobre questões estaduais e municipais diversas”, completou ele, que presidirá as eleições municipais em novembro próximo.

De olho nas fakenews

Enquanto milhões de americanos começavam a votar, ontem, o Facebook comprometeu-se a monitorar, em tempo real, as informações enganosas e as tentativas de manipulação que circulassem em sua plataforma. Em comunicado postado no Twitter, a empresa anunciou que excluiria todas as notícias falsas sobre as eleições, incluindo possíveis reivindicações prematuras de vitória, procurando assim evitar uma repetição dos esforços de manipulação de 2016. “Se virmos tentativas de suprimir a participação, intimidar eleitores ou organizações para fazer isso, o conteúdo será removido”, garantiu o Facebook.


Acordo de Paris: saída temporária?

Os Estados Unidos abandonarão, hoje, o Acordo de Paris. Mas a condição inédita — nenhum outro país havia se retirado de um pacto internacional sobre mudanças climáticas — pode ser temporária. Se chegar à Casa Branca, o democrata Joe Biden deve conduzir a reincorporação ao pacto. Caso contrário, o esforço global para frear o aquecimento global tende a continuar sem a maior economia do mundo. Biden propôs um plano de US$ 1,7 trilhão para que os EUA cheguem a uma marca de zero emissões de carbono em 2050. Donald Trump, por sua vez, enfraqueceu várias proteções ambientais durante a sua gestão e defende energicamente a indústria dos combustíveis fósseis. Se o republicano for reeleito, estados, cidades e empresas do país precisarão tomar as próprias iniciativas de combate ao aquecimento global. Um relatório do grupo America’s Pledge, divulgado no mês passado, mostra que, sem a ajuda de Washington, a ação desses grupos possibilitaria que o país reduzisse as emissões em 37%, em 2030.

Primeiro teste para a juíza Barrett

Nomeada para a Suprema Corte na semana passada, a juíza Amy Coney Barrett enfrenta hoje seu primeiro teste. A casa examinará se um órgão encarregado por um prefeito para escolher famílias adotivas para crianças pode, em nome de suas convicções religiosas, excluir do processo casais homossexuais. Católica fervorosa, Barrett pode influenciar o resultado da guerra judicial. Sua chegada ao tribunal, uma semana antes das eleições presidenciais, fortaleceu a maioria conservadora do Tribunal, agora com seis magistrados, entre nove.